A IGREJA MEDIEVAL E OS PRÉ REFORMADORES

Idade Média foi um termo depreciativo criado por autores do Renascimento visando subestimar o longo período , tido como monótono e estagnado, situado entre a antiguidade clássica e o período em que viviam. A primeira e a segunda metade da Idade Média foram diferentes em vários aspectos. Esse período abrange da queda de Roma (476) até a queda de Constantinopla (1453).

Nos primeiros séculos  denominado de "Idade das Trevas, o antigo império romano ocidental foi substituído pelo império dos francos - O Sacro Império Romano - cujo monarca mais notável foi Carlos Magno. As Igrejas Ocidental e Oriental ainda mantiveram alguns laços de comunhão e entendimento. A atividade cultural era limitada aos mosteiros e houve menos dinamismo na área teológica.  Foi nesse tempo que surgiu o Islamismo.

Após o ano 1000, ocorreram várias reformas administrativas importantes na Igreja, um enorme fortalecimento do papado e grandes conflitos com o poder civil. Além do Sacro Império (agora Germânico) surgiram grandes reinos como França, Inglaterra e Espanha. Consumou-se definitivamente as rupturas entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica. A Teologia experimentou uma grande revitalização por meio da Escolástica.

Foi nesse tempo, que houve a preparação para a Reforma em meados do século XV na Itália com a Renascença. A Renascença foi um movimento que tirou da tutela de Roma as economias, as artes, a ciência, a política e a religião. Nessa época o povo voltou-se para a leitura dos clássicos, inclusive, o Novo Testamento no original (grego) e descobriu quantas distorções haviam adentrado no cristianismo. Nessa época também, Johannes Guttenberg inventou a imprensa (1540), o que  muito auxiliou na distribuição da Sagrada Escritura e outras obras escritas pelos reformadores.

Para citar apenas uma dessas distorções, na área científica, quando  Copérnico declarou que o sistema era Heliocêntrico, a Igreja Católica refutou como heresia essa afirmação, ao passo que os reformadores, (especialmente João Calvino) ficou do lado de Copérnico e Galileu.

Essas distorções na Área Teológica, chegaram ao seu apogeu quando o texto do rodapé era mais importante que o texto da Escritura. Foi nesse tempo que surgiram as cruzadas, as ordens monásticas, as universidades.

Esse é o contexto histórico e conturbado em que viviam os pré-reformadores e alguns estudiosos de renome. Alguns pré-reformadores tais como os Albigenses, os Valdenses, Jonh Wycliffe, Jonh Huss, Jerônimo Savonarola, Anselmo, Abelardo, Bernardo de Claraval (importante teólogo católico) e Tomás de Aquino (outro importante teólogo católico e um doutor nas ciências, bastante citado inclusive no Direito). 

Como o tempo e o espaço são demasiadamente escassos concentraremos nossa atenção aos pré-reformadores, cientes que estamos omitindo vasto conteúdo como o papado de Gregório I, o Escolasticismo, a vida de Occam entre outras coisas, que se Deus quiser e permitir abordaremos em outro estudo, pois bem, concentremo-nos nos pré-reformadores:

Albigenses (1170)

Também conhecidos como cátaros, conseguiram proeminência no sul da França.  Rejeitavam a autoridade da Tradição, opunham-se a doutrinas romanas como purgatório, adoração de imagens, e pretensões sacerdotais. Tinham alguns desvios teológicos graves, é verdade, tais como rejeição do Antigo Testamento, por essa razão, distribuíam ao povo somente o Novo Testamento. O papa Inocêncio III, mobilizou contra eles uma "cruzada" que gerou no extermínio dos albigenses. Não somente eles, mas também quase toda população, tanto católica, quanto a população considerada herética.

Valdenses (1170)

Tiveram como mentor um homem chamado Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que lia, explicava e distribuía as Escrituras, com as quais contestava os costumes e doutrinas dos católicos romanos. Pedro Valdo fundou uma ordem de evangelistas itinerantes conhecida como os "pobres de Lyon" que viajavam pelo centro e sul da França ganhando adeptos. Foram perseguidos, expulsos da França, contudo encontraram abrigo nos vales do norte da Itália e hoje constituem parte do pequeno grupo de protestantes  na Itália.

 João Wycliff (Wycliffe) 1329 - 1384:

Nascido no século XIV, filho de camponeses, tornou-se a estrela da alva da Reforma. Viveu na época do "Cativeiro Babilônico" do papado. Era erudito, mestre famoso na Universidade de Oxford, polemista demolidor e pregador ungido. Combateu várias doutrinas católicas como clericalismo, transubstanciação, papado. Iniciou a primeira tradução bíblica para o Inglês. Foi duramente perseguido. Foi o mentor dos Lolardos.

João Huss (1369 - 1415):

Nascido na Boêmia, leitor assíduo dos escritos de Wycliff, reitor da Universidade de Praga. Pregou as mesmas doutrinas que Wycliff e foi excomungado pelo papa. Nesse interregno, continuou escrevendo cartas confirmando suas idéias. Ao fim de dois anos recebeu a proposta de ir ao Concílio de Constança com um salvo-conduto, porém o salvo-conduto não foi respeitado e Huss foi queimado em 1415. No seu martírio, Huss disse: "Hoje vocês estão matando um ganso (na língua Materna de Huss, seu nome e ganso tem o mesmo significado), mas daqui cem anos Deus levantará uma águia (Lutero) que vocês não poderão matar". Cento e dois anos depois, Lutero estaria fixando suas noventa e cinco teses na Catedral de Wittenberg.

Jerônimo Savonarola (Girolamo Savonarola) - 1452 - 1498

Monge dominicano em Florença, Itália, pior do mosteiro de São Marcos. Diz-se que ele pregava igual aos profetas antigos contra os males sociais, eclesiásticos, políticos de seu tempo. A grande catedral enchia-se para ouvir e obedecer-lhe os ensinos. Durante algum tempo foi o ditador de Florença assim como Calvino seria a mente de Genebra na reforma. Savonarola então foi excomungado pelo Papa, preso, condenado e enforcado e seu corpo queimado na praça de florença. Seu martírio deu-se apenas dezenove anos antes de Lutero afixar as 95 teses na porta da catedral de Wittenberg.

Concluindo esse pequeno estudo, gostaríamos de mostrar algumas aplicações para nossa geração:

  1. Deus sempre tem seu remanescente fiel em qualquer tempo e lugar;
  2. Importa sempre obedecer primeiro a Deus e depois aos homens se estes condizerem com Deus
  3. Pregue a Verdade da Escritura mesmo em detrimento de tudo o mais
  4. Sempre haverá uma restauração para a Igreja, mesmo que pareça que ela esteja morta
Paulo orientou Timóteo "Prega a Palavra... Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina". É tempo de olharmos para a Igreja Medieval e orarmos: "Aviva tua obra  Senhor". É tempo de entendermos que podemos contribuir juntamente com eles para a glória de Deus. Minha oração é que Deus nos dê uma centralidade na Escritura e um povo disposto para o Senhor.

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