PÁSCOA: CATECUMENATO, QUARESMA E BATISMO

Catecumenato é um termo que significa o processo de aprendizagem destinado ao batismo. Ele durava cerca de 2 a 3 anos na igreja antiga. O termo catequese (ensino) está presente no grego bíblico em Gálatas 6:6; Lucas 1:4 Atos 18:25, etc. Foi o catecumenato que deu origem à quaresma e, ambos, estão intimamente relacionados com a páscoa como veremos.
Em primeiro lugar é preciso saber que o batismo, nos primeiros séculos de igreja (séc. II e III dC), era aplicado apenas pelo bispo e majoritariamente na Páscoa. Para os primeiros crentes, o batismo era o novo nascimento. Nada melhor que a Páscoa, a data da nova vida para indicar isso pelo rito. Justino Mártir, por exemplo, em sua Primeira Apologia declarava que o batismo conferia regeneração.
A igreja escolheu o rito pascal por alguns fatores bíblicos. Desde o início, a Páscoa marcava a libertação da escravidão (Êxodo 12); um retorno à Escritura (2Crônicas 30). No ritual batismal antigo, renunciava-se Satanás e suas obras. Confessava-se ainda a Escritura na forma do credo apostólico.
Outro fator, já salientado, é que a Páscoa indica nova vida. Paulo diz que Cristo é nosso cordeiro pascal morto para iniciarmos nova vida (1Coríntios 5:7). Isso era tão sério que a igreja não dividia suas lições catequéticas com os “de fora” da igreja. Isso é chamado – pelos antigos – de Disciplina arcanii (a disciplina do segredo). O ritual da páscoa não era compartilhado por qualquer ouvinte da igreja.
A igreja dividida seus ouvintes em três categorias: Audientes, Competentes, Batizados. Os audientes eram aqueles que podiam apenas ouvir o Serviço da Palavra, hoje, nosso sermão e, depois, eram despedidos para casa; pois não podiam participar do Serviço da Mesa – A comunhão ou Eucaristia.
Os Competentes eram aqueles que estavam se preparando efetivamente para o batismo. Um processo – conforme já ressaltado – que durava cerca de três anos. Eles eram também chamados de iluminados. Acreditava-se, nessa época, que o batismo era iluminação espiritual.
Aqui começa a saga da Quaresma, pois os competentes antes de receberem o batismo no Domingo da Páscoa jejuavam e oravam e com eles toda a igreja. Para eles – assim como para nós, o batismo é verdadeira páscoa – pessah – passagem.
PASSAGEM? DE QUÊ?
O termo pessah vem do livro do Êxodo e remonta ao fato de que o anjo destruidor passou por cima da casa dos hebreus e os poupou do último sinal no Egito: A morte dos primogênitos. Paulo faz uma interpretação evangélica desse evento em Colossenses 1:13-14 onde ele diz:
“Ele nos libertou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a remissão dos pecados.”
Paulo continua sua aplicação evangélica desse fato, agora em Romanos, quando diz (6:17-18):
“Mas graças a Deus que, tendo sido escravos do pecado, vocês vieram a obedecer de coração à forma de doutrina a que foram entregues. E uma vez libertados do pecado foram feitos servos da justiça”.
PÁSCOA: O REINO DO FILHO AMADO, O TEMPO DE INTERVENÇÕES SOBERANAS E MILAGROSAS DE DEUS PARA O SEU POVO
Páscoa, na Bíblia, fala sempre dos atos miraculosos de Deus em favor do seu povo. Isso acontece porque estamos agora no Reino do Filho amado de Deus. Em uma páscoa, o povo saiu do Egito, em uma páscoa, Pedro foi liberto da prisão miraculosamente (Atos 12), foi numa páscoa que a Palavra de Deus foi redescoberta em Israel (2Crônicas 30) e, finalmente, em uma páscoa, o Filho de Deus se deu em favor dos homens (Mateus 26:2).
Essa passagem (páscoa quer dizer literalmente passagem) é enfatizada no próprio rito batismal. Quando os competentes iam às águas batismais, ele passava por inúmeros ritos: Em primeiro lugar, renunciava o Diabo três vezes virada para o Ocidente – onde o Sol se põe. Depois, virada para o Oriente – onde o Sol se nasce, confessava a Jesus Cristo – O Sol da Justiça (Ml. 4:2). Essa Confissão era uma recitação do Credo Apostólico. Após o batismo em si, que era recebido ajoelhado e com água derramada sobre a cabeça em três vezes (Em nome do Pai, Filho e Espírito Santo), o batizando recebia uma roupa branca – símbolo da nova vida. Recebia ainda o sinal da cruz indicando pertencer a um novo mestre: Cristo (Mt. 23:8). Recebia unção de azeite na testa para indicar que agora era sacerdote/sacerdotisa de Deus (1Pe. 2:9-10) e uma vela para indicar que agora era a luz perante o mundo (Mt. 5:16). Mais tarde, a unção com azeite foi separada do rito batismal e deu origem ao sacramento romano da crisma ou confirmação.
Para finalizar, enfatizamos que Páscoa tem a ver com Sofrimento. No grego, o termo para a páscoa tem ligação com o sofrimento. πάσχα (páscoa) e πάσχω (sofrer) tem a mesma raiz. Somos o povo da cruz e da páscoa, por isso, ao celebrarmos a páscoa convém sermos lembrados de que nos esperam tribulações para entrarmos no Reino de Deus (Atos 14:22).

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