A formação do Cânon do Novo Testamento

A formação do Cânon do Novo Testamento
Definição do Termo:

O termo foi usado pela primeira vez por Quintiliano para designar a biblioteca de obras clássicas, nos parâmetros da escola de Alexandria.
O termo só passou a ter conotação teológica no terceiro século com Orígenes.

Cânon – “Vara de Medir”, por conseguinte, regra ou padrão de fé, ou seja,  livros divinamente inspirados por Deus.

Formação do Cânon:

Os escritos do Novo Testamento foram concluídos pouco depois do inicio do 2º século, entretanto, a formação do Novo Testamento com os livros que o compõem, como Cânon, não foi imediata. Não é possível determinar a data exata do reconhecimento completo do Novo Testamento, tal como o usamos atualmente, mas sabe-se que não aconteceu antes do ano 300.

Os concílios que se realizavam, de quando em quando, não escolheram os livros para a formação do Cânon, apenas ratificaram as escolhas já feitas pelas Igrejas. Não devemos imaginar que o processo de definição do Canon foi obra de comissões que se reuniram para julgar os escritos cristãos e decidir se podiam fazer parte do Canon ou não. Seria mais exato dizer que os documentos que acabaram entrando no Canon demonstraram sua autoridade intrínseca por meio do uso constante na Igreja.

A primeira tentativa semi-oficial de criar um Cânon correto das Escrituras aconteceu em Roma em 170 dC, chamado “cânon muratório”, esse cânon incluía os quatro Evangelhos, Atos, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom,  A sabedoria de Salomão. Esse cânon já considerava inspirados os livros da bíblia Hebraica (Antigo Testamento).

Atanásio foi quem trouxe a primeira lista autorizada de 66 livros inspirados da Bíblia Cristã na sua carta de páscoa, disseminada entre os bispos cristãos em 367, essa lista é idêntica ao novo Testamento que temos hoje que foi amplamente aceita no Oriente, a mesma conclusão foi endossada no Ocidente por uma declaração papal em 405, e no norte da África nos sínodos de Hipona (393) e Cartago (397), ou seja, já no século quarto, o novo testamento como o temos atualmente já era aceito universalmente; além disso, Atanásio identificou uma lista de livros secundários que posteriormente surgiriam na igreja ocidental (latina, católica romana) como os apócrifos inspirados.

Gradual e lentamente, os livros do Novo Testamento, da forma como hoje os usamos, conquistaram a proeminência de Escrituras Inspiradas.

Os primeiros documentos a serem reunidos foram as Cartas de Paulo. O herege Marcião nos informa que antes de sua época (cerca de 140 dC), já havia uma coleção fixa das dez cartas principais de Paulo. Por volta do ano 200 havia coleções que também incluíam 1 e 2 Timóteo e Tito. Os autores cristãos desse período os citavam freqüentemente como tendo autoridade das Escrituras.  Embora houvesse duvidas freqüentes sobre a autoria de Hebreus, já em 200 dC cristãos egípcios a incluíam em sua coleção de cartas de Paulo. Mas ela só teve maior aceitação na igreja ocidental a partir do quarto século.

Os Evangelhos à medida que os cristãos se familiarizavam com mais de um Evangelho, perceberam que cada um trazia uma perspectiva diferente de Jesus. Por volta de 150 dC, Justino Mártir já descrevia como os Cristãos reunidos para a adoração liam as “memórias” dos apóstolos “que são chamadas Evangelhos” (Apologia 1:66). Antes do ano 200, Irineu já afirmava que é tão natural haver quatro evangelhos, quanto há quatro ventos e quatro cantos da terra (Contra Heresias 3.11.8)

Cartas Católicas ou Gerais, ou Universais (Tiago a Judas) formaram a última coleção a ser reunida. Pelo fato de não ter claro reconhecimento se autoria apostólica, todas, exceto 1Pedro e 1 João, foram pouco usadas antes do quarto século. Um pouco depois do ano 300 dC, Eusébio fez referência a uma coleção de sete “cartas católicas”. Provavelmente a coleçao surgiu do desejo de se ter um testemunho comum dos apóstolos “tidos como colunas” da Igreja. Judas foi aceito, segundo parece, somente por causa da tradição  amplamente aceita  de que o autor era irmão de Jesus.

Atos e Apocalipse  A importância de Atos já era reconhecida por volta do ano 200 dC como evidencia de que Paulo e os outros apóstolos pregavam o mesmo evangelho, ao contrario dos esforços de Marcião e outros hereges  de reivindicar Paulo para si e rejeitar os outros apóstolos. O livro de Apocalipse foi aceito mais rapidamente no Oriente, mas esteve sob suspeita no Ocidente devido ao mau uso que os hereges montanistas fizeram dele acerca de especulações quanto ao fim do mundo.

Classificação dos Livros por Eusébio:

1.      Livros aceitos pelas Igrejas sem qualquer restrição – “Quatro Evangelhos, Atos, 14 cartas de Paulo, 1 João, 1 Pedro e também Apocalipse “se desejável””.

2.      Livros contestados, isto é, aqueles que ainda não tinham aceitação universal – “Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 e 3 João, os Atos de Paulo,  o Pastor de Hermas, o Apocalipse de Pedro, A carta de Barnabé, o didaquê”

3.      Os firmemente rejeitados – Evangelhos de Pedro, de Tomé,  e de Matias,  e os atos de André e João.


Todos os livros que foram rejeitados, o foram, pois careciam de qualidade profético-apostólica essencial e de ligação com o Cristianismo primitivo.

Critérios pelos quais cada livro foi rejeitado ou aceito pelas Igrejas como sendo canônicos:

1.      Origem e autoridade apostólica

Era crença firme entre os primeiros cristãos que a autoridade para dirigir a Igreja tanto verbalmente quanto por escrito, fora concedida pelo Senhor unicamente aos apóstolos. Tudo o que exigiam dos escritos eram as “credenciais do apostolado” por autoria ou autorização. Assim, os escritos de Marcos e Lucas, nunca foram colocados em dúvida, pois eram reconhecidos como escritos sob a direção de Pedro e de Paulo. Também chamado de “Princípio Profético-Apostólico”

2.      Origem Ortodoxa

O livro combina com a compreensão da fé crista que recebemos por meio da tradição viva da Igreja? Com base nisto muitos documentos com títulos aparentemente autênticos como o Evangelho de Tomé e atos de João e os Atos de Paulo, o Pastor de Hermas, o Apocalipse de Pedro, A carta de Barnabé, o didaquê foram rejeitados.

3.      É católico ou Geral?

O livro comunica a Palavra de  Deus a Igreja em Geral? Sua mensagem poderia ser transmitida a um público mais amplo?


4.      O livro alentou a vida das igrejas ao longo do Tempo?


No final das contas, o teste mais importante que podia ser aplicado a um documento era se ele havia demonstrado seu valor divino através de sua habilidade em renovar, sustentar e guiar a Igreja.

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