O que é e por que estudar a doutrina da Providência Divina?
Nesse
presente artigo, busco incentivar o estudo da Providência por quatro motivos
básicos, como expostos no Catecismo de Heidelberg. Discorro também sobre o que significa
a ideia bíblico-teológica da Providência, como ela se manifesta e o que nos
ensina.
O título
Providência na literatura clássica:
Os escritores clássicos empregam o vocábulo grego
“pronoia” (πρόνοια) a respeito da Providência de Deus, embora
nenhum termo isolado, no hebraico ou grego bíblicos, transmita completa e satisfatoriamente
a ideia Bíblico-Teológica que temos da Providência. O termo πρόνοια ocorre no Novo
Testamento em duas passagens: Atos 24:2 e Romanos 13:14, mas nunca, o termo está ligado a uma
ação divina, e sim, humana. Já a palavra portuguesa “Providência” vem do Latim “Providentia”,
etimologicamente significa “ver antes”, “ver de antemão”, adquirindo posteriormente o
usual significado Teológico.
A ideia Bíblico-Teológica da
Providência:
A Providência é normalmente definida na Teologia
Cristã como a “incessante atividade do Criador,
mediante a qual, em abundância e boa vontade transbordantes, ele sustenta suas
criaturas em existência ordenada, guia e governa todos os acontecimentos, circunstâncias,
livres atos de anjos e homens e dirige tudo para o seu alvo apontado visando a
sua própria Glória”.
Nessa definição encontramos três conceitos presentes
na doutrina da Providência:
I – Sustentação (Colossenses 1:17; Hebreus 1:3)
II – Concorrência (Gênesis 45:5-8; Efésios 1:11)
III - Governo (Salmo 103:19; Daniel 4:35; Romanos 8:28)
I – Sustentação (Colossenses 1:17; Hebreus 1:3)
II – Concorrência (Gênesis 45:5-8; Efésios 1:11)
III - Governo (Salmo 103:19; Daniel 4:35; Romanos 8:28)
Nem sempre
essa tríplice divisão foi empregada pelos teólogos; Calvino e o Catecismo de Heidelberg,
dentre outros, na sua definição da Providência aplicaram somente os termos Preservação (Sustentação) e o Governo, sendo
que a Concorrência está inserida dentro da ideia da Sustentação.
As multifacetadas manifestações
da Providência
A Providência, segundo o pensamento dos
reformadores, manifestava-se de três formas:
I – Providência Universal dispensada a ordem da Natureza (eliminando
então o Panteísmo, o Deísmo e o Naturalismo);
II – Providência especial de Deus lidando com a humanidade (o que
usualmente se conhece como “Graça Comum”);
III – Providência Particular de Deus – Dada exclusivamente aos
Eleitos;
A importância do estudo da
doutrina da Providência:
O Catecismo de Heidelberg oferece-nos quatro
excelentes motivos pelos quais devemos nos ater ao estudo da Providência; veja
o que ele diz:
“[Devemos conhecer a doutrina da Providência] Para que tenhamos paciência em toda a adversidade, mostremos gratidão em toda prosperidade, para que quanto ao futuro tenhamos a firme confiança em nosso fiel Deus e Pai, de que criatura alguma pode nos separar do amor dele. Porque todas as criaturas estão nas mãos de Deus, de tal maneira que sem a vontade dele não podem agir, nem se mover”.
“[Devemos conhecer a doutrina da Providência] Para que tenhamos paciência em toda a adversidade, mostremos gratidão em toda prosperidade, para que quanto ao futuro tenhamos a firme confiança em nosso fiel Deus e Pai, de que criatura alguma pode nos separar do amor dele. Porque todas as criaturas estão nas mãos de Deus, de tal maneira que sem a vontade dele não podem agir, nem se mover”.
Sendo assim, os quatro motivos são:
I – Estudar a Doutrina da Providência nos possibilita
a ter “paciência em toda a
adversidade”;
“O extremo de todas as misérias
é o desconhecimento da Providência e a suprema bem-aventurança está posta sobre
seu conhecimento” (Calvino).
Quando algum ruim nos acontece entendemos que é Deus
agindo através de seus instrumentos, como ensinou Lutero; de sorte que
entendemos também que até o diabo é o “diabo de Deus”, pois este não age
independente do poder e da vontade benevolente de Deus.
Entendemos
que o mal que nos sobrevêm, nos sobrevém para promover em nós o caráter de Cristo.
Isso era o que impulsionava os cristãos do Primeiro Século, porque eles sabiam
que foi dado a eles não somente que cressem em Cristo, mas que sofressem por
ele também (Filipenses 1:29), de tal forma que aquele que com ele sofre, com
ele é glorificado (II Timóteo 2:11-13).
II – Estudar a doutrina da Providência gera em nós Gratidão;
O Deus Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra,
Infinito, Sábio, Santo, se importa conosco; ele que habita no lugar
inacessível, olha condescentemente para nós. Ele tem tal zelo por nós que ‘até
todos os cabelos de nossa cabeça estão contados’ (Mateus 10:30). Somos gratos
porque ele, providencialmente, ‘tudo nos provê ricamente, para a nossa
satisfação’ (I Timóteo 6:18). Somos gratos porque ele é bom e faz o bem a todos
(Salmo 119:68, 145). Porque ele é aquele que nos dá o alimento através das leis
naturais (Gênesis 8:21; Salmo 104:14,15,27,28), abençoa o nosso trabalho desde
o amanhecer até o anoitecer (Salmo 104:23; 128:1-2). Somos gratos porque
sabemos que a palavra final não é da morte, nem da derrota, nem do diabo, mas
de Deus. Ele é quem se assenta no Globo e do seu Trono governa os céus e a
Terra.
III – O conhecimento da Doutrina da Providência gera
em nós a confiança de que nada pode nos separar de Deus
Martinho Lutero, reformador alemão do Séc. XVI,
desenvolveu a “Teologia da Cruz”; Segundo essa Teologia, vemos Deus
assumindo os nossos sofrimentos, tornando-se um conosco, porque aquilo que ele não assumiu,
ele não curou como diria Gregório de Nissa; Deus é mais bem visto e entendido da perspectiva do
Calvário. Ele é mais bem visto como o Misericordioso por Excelência, ele é mais
bem visto como o Juiz Justo, que julga e condena o pecado e o pecador
impenitente. Na cruz, a Justiça e Misericórdia se encontraram. Foi na cruz que
se tornou possível, por iniciativa única de Deus, que ninguém nos separe dele.
Jesus disse que ninguém arrebata suas ovelhas da sua mão. De sorte que se
vivemos, para o Senhor vivemos; Se morremos, para o Senhor morremos, de sorte
que vivamos ou morramos somos do Senhor (Romanos 14:8).
IV – O conhecimento da Doutrina da Providência gera em nós alegria e
certeza antecipada do Triunfo;
“Ao vencedor darei o direito de sentar-se
comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu
trono.” (Apocalipse
3:21)
Vi tronos em que se assentaram aqueles a quem havia sido dada autoridade
para julgar. Vi as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de
Jesus e da palavra de Deus. Eles não tinham adorado a besta nem a sua imagem, e
não tinham recebido a sua marca na testa nem nas mãos. Eles ressuscitaram e reinaram com Cristo durante mil anos. (Apocalipse
20:4)
"Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos
considerados como ovelhas destinadas ao matadouro". Mas, em todas estas
coisas somos mais que vencedores, por meio
daquele que nos amou. (Romanos 8:36,37)
“Mesmo que nós caiamos, a nossa causa será vitoriosa porque Cristo está
assentado á direita de Deus; O Evangelho Triunfará e isso me conforta de forma extraordinária.” (John
Owen)
“Tem havido dias gloriosos e grandiosos do Evangelho nesta terra, mas
eles serão nada em comparação àquilo que haverá no futuro” (James Renwick)
O reino de Cristo agora ainda não é deste mundo
(João 18:36), mas, haverá um dia, na Regeneração (Mateus 19:28) onde a Criação
será liberta da escravidão (Romanos 8:21-23), onde nós reinaremos eternamente
com Cristo, pois o seu reino não tem fim (Lucas 1:33), esse Reino Justo e
Eterno será conhecido como “Novos céus e nova Terra (Isaias 65:17; Apocalipse
21:1), onde habita a Justiça (II Pedro 3:13). Por isso cantamos “Vencendo vem,
Jesus”!
O que a Providência nos Ensina
A Providência nos ensina que Deus não age unicamente
por milagres; quem estuda a Providência entende que Deus age por meios. Deus
cura tanto por milagre como através dos médicos, a mão de Deus pode ser vista
no púlpito da Igreja quanto no trabalho braçal de um camponês. Louvamos a Deus
pela boa música, pela boa vestimenta, tanto quanto o louvamos na expressão
cúltica. A Providência nos ensina que: “Na extensão total da
vida humana não há nenhum centímetro quadrado acerca do qual Cristo, que é o
único soberano, não declare: Isto é meu".
(Abraham Kuyper). Ele é tão Senhor na Academia quanto na Igreja; É tão
Senhor na Família como nos negócios.
I – Primeiramente a Providência nos ensina que nosso
Deus é Incriado; (O Deus Transcendente)
Deus não é parte do mundo (Panteísmo), Deus não se
reduz a leis naturais (Naturalismo), Deus não está distante do mundo (Deísmo).
Deus transcende a tudo isto, ele é o “Alto e
Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo [e diz]: "Habito num
lugar alto e santo” (Isaias 57:15).
II – Em segundo Lugar, a Providência nos ensina que
Deus se relaciona com a sua criação bondosamente; (O Deus Imanente)
Deus energiza tudo (Efésios 1:11), isso significa
que independente dele ninguém consegue existir, ele é o ser necessário, todo o
resto compõe se de seres contingentes. Nele, nos
movemos e existimos (Atos 17:28). Sem ele, nada do
que existe teria sido feito (João 1:3). Ele é o Deus que “habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar
novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito” (Isaías 57:15b)
III – Em terceiro Lugar, a doutrina da Providência
nos ensina que o Deus regente do Universo é Pessoal;
Não é um Fatalismo cego que nos dirige, mas sim, um
Pai amoroso e zeloso (Tiago 4:6), que sabe as nossas necessidades (Mateus
6:8,32) e as supre (Filipenses 4:19).
A Personalidade de Deus pode ser vista nos seus
atributos Morais: Ele é Amoroso, Bondoso, Gracioso, Justo, Santo, etc.
Adjetivos que não empregamos para coisas, somente para pessoas.
No próximo artigo, exploraremos com mais afinco, as três
divisões da Providência: “Sustentação, Concorrência e Governo”.
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