Pitacos sobre Dúvida
PITACOS SOBRE A
DÚVIDA PARA OS CRISTÃOS
“Eu creio, ajuda-me na minha incredulidade” (Marcos 9:24)
Nossa fé busca compreensão constantemente. Santo Anselmo disse que nossa fé é aquela que busca entendimento; ele disse: “Não compreendo para crer, creio para compreender”. Deus nos dotou de inteligência e entendimento e, espera que os usemos adequadamente para o seu Reino. O uso adequado da razão passa por análise de dúvidas legítimas e a procura de respostas, igualmente legítimas. Nessa busca por respostas legítimas devemos entender que alguns de nós, sempre terão questões sem respostas. A questão crucial, no entanto, é aprender a lidar vitoriosamente com a dúvida.
A figura com o que a Bíblia apresenta a dúvida é bastante esclarecedora. Mcgrath, em seu livro “Como lidar com a dúvida” (págs. 55-60), nos diz que O Novo Testamento não usa só uma palavra para designar a dúvida. (...) O Novo Testamento usa quatro imagens principais e, cada uma trata de um ângulo do conceito de dúvida:
1.
Hesitação – “Quando
o viram (a Jesus), o adoraram; mas alguns duvidaram” (Mateus 28:17 NVI).
A palavra grega usada aqui (distazõ - διστάζω) tem o sentido de deter-se ou hesitar. A mesma palavra e a mesma ideia pode ser encontrada antes no Evangelho de Mateus (14:31) na descrição da tempestade no mar. Hesitação indica ausência de confiança.
2. Indecisão – Jesus, respondeu: “Eu lhes asseguro que, se vocês tiverem fé e não duvidarem, poderão fazer não somente o que foi feito à figueira, mas também dizer a este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’ e, assim será feito”. (Mateus 21:21 NVI)
A palavra usada aqui (diakrinõ - διακρίνω) é usada também em Romanos 4:4 e tem o sentido de ‘discutir, estar em desacordo ou discordar’, contudo, no Novo Testamento, um sentido mais sutil se desenvolveu – discutir consigo mesmo. Agora, a palavra se refere a um debate mental interno que reflete indecisão e falta de convicção. A mesma ideia e palavra aparecem em Tiago 1:6, com uma imagem forte – uma onda empurrada no mar bravio – a pessoa está dividida interiormente , sem saber o que fazer.
3. Mente dividida – “Aproximem-se de Deus e, ele se aproximará de vocês! Pecadores limpem as mãos, e vocês, que tem a mente dividida. Purifiquem o coração. (Tiago 4:8 NVI)
A palavra usada aqui é dipsychos (διψυχος). Implica indecisão, hesitação e como resultado, ausência de progresso. Uma ilustração útil é a de “o asno de Buridan”. Imagine que você tem um asno faminto, colocado bem no meio do espaço que separa duas pilhas de alimento. Para sobreviver, ele terá que decidir em qual delas irá se alimentar. Porém, se não conseguir escolher uma das pilhas o infeliz irá morrer de fome. Duvidar significa não ter um resolvido um conflito interno entre a incredulidade e a fé. Denota que há opções em aberto que já deveriam ter sido resolvidas há muito tempo.
4. Dúvida como estado mental - E Jesus disse a Tomé: “Coloque o seu dedo aqui; veja minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no meu lado. Pare de duvidar e creia”. (João 20:27 NVI).
A frase grega usada aqui é de difícil tradução. O grego possui duas formas de imperativo, ou seja, pode mandar a pessoa fazer uma coisa de dois modos diferentes. No imperativo aoristo significa dizer: “Faça isso uma vez”. Essa forma seria usada para pedir alguém para abrir uma janela. No entanto, na outra forma, o imperativo presente, significa “continue fazendo isso; não se limite a fazer uma única vez”. O verbo grego usado em João 20:27 está no imperativo presente. Não significa: “Nesta situação, presente, não duvide – creia!” Em vez disso, quer dizer: “Pare de duvidar agora, de uma vez por todas. E continue acreditando”.
O fato contundente é que a Bíblia reconhece que é possível um cristão genuíno ser atacado por um momento de dúvida. O também Filósofo e teólogo cristão, William Lane Craig, em seu livro: Apologética para questões difíceis da vida (págs. 35-46) nos indaga: “Há algum antídoto para a dúvida?” Eis sua resposta:
Para começar, temos de admitir que não há respostas fáceis para o problema da dúvida. Provavelmente, você terá que trabalhar suas dúvidas num processo lento e agonizante e, pode ter de suportar o que os homens santos tem chamado de ‘noite escura da alma’ ou ‘vale escuro’ antes de se aproximar novamente da luz. (...) Deixe-me lhe dar algumas sugestões prática
1. Reconheça que a dúvida nunca é um problema puramente intelectual
Como professores cristãos, estudantes e leigos, nunca devemos perder de vista a mais ampla batalha espiritual em que estamos todos envolvidos. Por isso, devemos ser extremamente cuidadosos com o que dizemos ou escrevemos, a fim de não nos tornemos instrumentos de Satanás na destruição da fé de alguém.
Em 1942, C. S. Lewis descreveu a fé como existindo em território inimigo. Escrevendo durante a Segunda Guerra Mundial, quando parte do continente europeu estava ocupado pelos exércitos nazistas, Lewis tentou expressar que a fé era como um movimento de resistência, que ia contra um poder invasor que vinha determinado a exterminar toda resistência que encontrasse. Disse ele: “O cristianismo é uma religião de luta”.
2. Quando a dúvida surge, tenha em mente a relação adequada entre fé e razão.
Fé é o testemunho interno do Espírito Santo (Romanos 8:16); ao falarmos da razão será útil usarmos a distinção feito por Martinho Lutero. Ele distinguiu entre o uso magisterial e o uso ministerial da razão. No uso magisterial da razão, esta se coloca acima do evangelho como um magistrado e juiz, quer seja verdadeira, quer falsa. No uso ministerial da razão, esta se submete ao Evangelho e o serve como criada. Lutero sustentava que somente o uso ministerial é legítimo. Suas dúvidas não serão dissipadas de uma vez por todas, a grande questão é aprender a lidar com elas.
3. Lute com suas dúvidas até resolvê-las.
Qualquer pensador cristão terá uma sacola de perguntas cheias de dificuldades sem solução, com as quais deverá aprender a conviver. No entanto, de vez em quando, quando tiver oportunidade, é bom retirar a sacola da prateleira, selecionar alguma das perguntas e tentar responde-la. Quando você tiver uma pergunta ou dúvida a respeito de uma questão específica, separe algum tempo para estuda-la lendo livros ou artigos sobre o assunto.
4. Leia livros que o estimulem a pensar sobre o assunto e desenvolva disciplinas espirituais
Segundo Lewis, a dúvida deve ser esperada. Quanto mais forte a fé, maior ela será. O cristão é como a aranha aquática. Ela é pequena, vive no fundo dos lagos, em uma pequena teia semelhante a um dedal. O abrigo tem um buraco na base, por onde ela entra. Quando chega à superfície do lago, a aranha prende bolhas de ar nos pelos curvados. Então, mergulha até sua toca e coloca as bolhas de ar lá dentro. Após algumas viagens, ela já acumulou ar suficiente para viver algum tempo sob a água. Embora o ambiente seja hostil e estranho, ela sobrevive, por causa do suprimento de ar que pegou na superfície do lago. Entretanto, em algum momento, a reserva de ar acabará e ela será obrigada a voltar à tona para buscar mais. Sem isso, não sobreviverá sob a água. Como cristãos, moramos em ambiente hostil, alimentados e sustentados por recursos do alto. Mas nossas reservas precisam ser renovadas e completadas, caso contrário, acabarão. A vida espiritual exige acesso contínuo aos recursos espirituais, isto é, os meios de graça – Palavra e Sacramentos. Os soldados aprendem a disciplina para não entrarem em pânico diante da primeira ameaça.
5. Desenvolva sua fé
Mcgrath, em seu já citado livro, nos informa que as dúvidas são convites para amadurecimento de nossa fé, um convite para aprofundarmos nossas raízes espirituais. O Rev. Hernandes Dias Lopes, pastor presbiteriano, em seu livro Parábola do Bambu (págs. 29-32) nos informa que o bambu chinês pode crescer e suportar as mais cruéis tempestades devido a consistência de sua raiz e compara o crente a um bambu chinês. Eis o que ele diz:
“Depois de plantada a semente do bambu chinês, vê-se durante quatro anos apenas o lento desabrochar de um broto. Não se percebe que ali está um pé de bambu. Durante quatro anos todo crescimento é subterrâneo, numa estrutura de raiz que se espalha pela terra. Mas no quinto ano, contudo, de forma magistral, para os que não conhecem, o bambu chinês começa a crescer rapidamente, até atingir vinte e quatro metros. O exemplo do bambu chinês tem a ver com nossa vida. Muitas vezes esperamos resultados imediatos e nos sentimos frustrados em não alcança-los. Trabalhamos, investimos tempo e esforço, mas por meses e anos não vemos nenhum crescimento, nenhum progresso em nossa vida. Precisamos cultivar a paciência. O quinto ano chegará e, como o bambu chinês, muitos ficarão surpreendidos. O bambu chinês só atinge os vinte e quatro metros, porque durante quatro anos, desenvolveu uma forte estrutura de raiz.”
Para concluir, lembremo-nos das palavras de Mcgrath (págs.137-139): “Preocupar-se com dúvidas é tão sem sentido quanto a ansiedade em relação à morte. Não muda a situação e desvia sua atenção das oportunidades que a vida cristã tem a oferecer. Preocupação com dúvidas é como introspecção espiritual constante, na qual você gasta todo o tempo olhando para o seu interior, seus sentimentos e dúvidas – quando deveria estar olhando para fora, para o Deus vivo que fez sua fé nascer e prometeu sustentá-la e alimentá-la em dias difíceis. (....) Então, veja a dúvida como um convite para alimentar sua fé, prive-a da atenção que precisa para crescer. De algum modo, aprenda a enxerga-la de forma positiva. Não fique deprimido nem permita que dúvidas obtenham a vitória. Veja-as como oportunidade para crescer na fé e consolidar seus recursos espirituais, em vez de um sinal de fraqueza. Sua fé só enfraquecerá se permitir que a dúvida o vença. (...) Então, é importante desenvolver estratégias que possibilitem o desenvolvimento da fé. Isso não significa tentar acreditar mais; significa permitir que sua fé repouse em fundamentos pessoais e doutrinários mais firmes”.
Querido leitor (a), não desanime diante das dificuldades e dúvidas. Elas são oportunidades de crescimento. Aproveite-as para fundamentar melhor sua fé e lembre-se: “Maior é o que está em vós do que aquele que está no mundo” (...) Já tendes vencido o maligno (...). Fortifique-se na graça, usando os meios de graça que são a correta ministração do Batismo e da Ceia, a fiel exposição da Palavra de Deus no culto público e a comunhão com os irmãos. Lembre-se do estímulo que Richard Nixon nos dá e ouçamo-lo: “Você nunca será vencido quando fracassa. Você será vencido somente quando desistir. Nunca desista. Nunca, nunca, nunca".
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