O Império se torna cristão: Boa iniciativa?
O Império se torna cristão: Boa
iniciativa?
É
sabido que com Édito de Milão em 313 dC, a perseguição aos cristãos no Império
Romano cessa. É Sabido também que durante o reinado de Teodósio I o
cristianismo é oficialmente declarado religião do Império e 'quem quer que
seguisse outra forma de culto receberia punição do Estado' (Earlie, p. 106) e
com isso todos passaram a ser inclusos no rol de membros da Igreja. Hurlbut, em
sua História da Igreja Cristã, registra resultados negativos e positivos para a
Igreja com o fim da perseguição e oficialização do cristianismo como religião
oficial (p. 86-94). Dentre os resultados negativos está justamente o fato de
todos estarem dentro da igreja sem conversão, mas por conveniência.
Essa
conveniência trouxe para dentro da Igreja homens inescrupulosos que buscaram
somente vantagens, sejam cargos eclesiásticos ou posição política. Os costumes
pagãos foram adotados na liturgia cristã, tornando a adoração cristã cheia da
pomposidade que se viu na Igreja durante a Idade Média.
Desde
então, a Igreja vem enfrentando o problema de ter números, mas não conversos.
Esse problema resultou inclusive na corrupção de papas durante a Idade Média.
Clérigos que ao findarem o sermão, iam direto para jogatina ou bares; outros
que tinham duas mulheres ou mais. Todavia, esse problema não é exclusividade da
Oficialização do Império, é recorrente desde o Novo Testamento.
Paulo
diz que havia cristãos em Corinto (cidade da Grécia Antiga) que estavam em
pecado escancarado e deveriam ser tratados (1Co. 5:1-13), outros que estavam
litigando no tribunal (1Co. 6:1-11) e deveriam envergonhar-se disto. Na Igreja
de Creta (uma ilha que ligava a Ásia e a Grécia), Paulo diz ter encontrado
homens hereges que deveriam ser evitados (Tt. 3:10-11). Pedro diz que nas
Igrejas na Ásia, haviam falsos mestres que serão julgados por Deus (2Pe
2:1-22).
É por
causa de indivíduos não regenerados dentro da Igreja que Lutero fala da
'abscondidade' da Igreja. E chama-a de "simultaneamente justa e pecadora”
à semelhança de cada cristão (BAYER, p. 200-203). Lutero e Calvino nutriam
respeito pela Igreja. Concordando com Cipriano, bispo de Cartago (séc. III)
chamam a Igreja de Mãe e Escola do cristão (GEORGE, p 236). Foi essa a razão,
pela qual os reformadores fixaram as marcas da Igreja verdadeira (notae
ecclesiae), que nos credos antigos são a santidade, unidade, apostolicidade e
catolicidade (OLSON, p. 414) e, para eles, são, na tradição Luterana, o
evangelho pregado em sua pureza e os sacramentos (batismo e ceia) corretamente
administrados. Para Calvino, além destes, acrescenta-se o uso da disciplina
(AQUINO, p.90) e para o Anglicanismo, o evangelho e sacramentos corretamente
administrados, a disciplina fielmente exercida e a sucessão apostólica (AQUINO,
p. 91).
Berkhof
em sua Sistemática, afirma que uso das marcas (ou sinais) da Igreja são para
evidenciar melhor quão próxima a igreja local se encontra da pureza do Novo
Testamento (p. 572). O "Prefácio ao Apocalipse de João" escrito por
Lutero em 1530, é consolador nesse sentido, ele diz: "Contanto que a
palavra do evangelho permaneça pura entre nós e nós a amemos e a valorizemos,
não duvidaremos que Cristo está conosco e entre nós, mesmo que as coisas andem
muito mal" (BAYER, p 201). Assim como Cristo andava entre as sete igrejas
do Apocalipse que também tinham seus problemas, assim o faz hoje.
Sendo
assim, a resposta a pergunta inicial depende do olho de quem o lê. Se olharmos
só pela perspectiva da conversão conveniente, certamente foi um desastre. Se
olharmos para o Deus que guia sua Noiva, certamente teremos que dizer:
"Cristo está conosco e entre nós, mesmo que as coisas andem muito
mal", pois foram épocas de maiores desastres que Deus usou para promover
os avivamentos.
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HURBULT,
J. L. – História da Igreja Cristã,
1ªEd. Atual. e Rev. Trad. João Batista; Vida Nova, SP, 2007.
CAIRNS,
Earlie – História do Cristianismo
através dos séculos: Uma história da
Igreja Cristã, trad. Israel Belo de Azevedo, 3ª Ed. rev. e ampl. São Paulo, Vida Nova, 2008
BAYER,
Oswald – A teologia de Martim Lutero:
Uma atualização, trad. Nélio Schneider, São Leopoldo, Sinodal, 2007.
GEORGE,
Timothy – Teologia dos reformadores trad.
Gérson Dudus e Valéria Fontana, São Paulo, Vida Nova 1993.
OLSON,
Roger E. História das controvérsias na
teologia cristã: 2000 anos de unidade e diversidade trad. Werner Fuchs, São
Paulo, Editora Vida, 2004.
AQUINO,
Rodrigo Bibo (org.) Mosaico Teológico:
Um esboço de doutrinas cristãs vol. 1 Joinville, BTBooks, 2013.
BERKHOF,
Louis (1873-1957) Teologia Sistemática trad.
Odayr Olivetti, 4ª ed. rev. São Paulo, Cultura Cristã, 2012.
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