QUANDO NOSSA VIDA PERDE O SENTIDO: REFLEXÕES PARA UMA SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO

QUANDO NOSSA VIDA PERDE O SENTIDO: REFLEXÕES PARA UMA SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO
“O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e o matarão; mas, três dias depois da sua morte, ressuscitará.” (Mc. 9:31)
Durante três anos e meio, a vida de doze homens e suas famílias gravitava em torno de uma figura enigmática: Jesus de Nazaré. Tudo o que faziam, diziam, eram e sentiam girava em torno de Jesus, o nazareno. Quando precisavam de saúde, ele os curava; quando precisavam de provisão, ele a enviava; quando precisavam de conselhos, ele os dava. Ele era a resposta de Deus às necessidades e ansiedades daqueles doze e suas famílias. Eles testemunharam que ele era o Salvador do mundo.
Numa noite fatídica, no entanto, à mesa Jesus notifica aqueles doze que seria sua última refeição com eles. Estabelecia aí a Ceia do Senhor ou a Eucaristia. Eles foram todos tomados de pavor, segundo o relato do Evangelista João. Aquele que era vida dos homens estava anunciando que regressaria para o Pai. Quão conturbado aquilo deveria ter soado!
“Dedicamos nossa vida seguindo o Senhor, agora ele regressará ao Pai. O que será de nós e nossas famílias?” “O que faremos agora?” “Quem nos sustentará? Quem nos ensinará o caminho da vida eterna?” “Vamos morrer contigo!”. Sem dúvida, a vida daqueles doze apóstolos perdeu o sentido com a notícia da partida de Jesus. Aquela sexta-feira foi sem dúvida a mais triste e conturbada de todos os tempos para aqueles seguidores.
Eles ficaram aterrorizados com aquilo. Judas foi enforcar-se. Pedro foi pescar e os demais apóstolos ficaram trancafiados numa casa em Jerusalém. A desconfiança tomava conta do coração de cada um; perdeu-se toda a esperança. O sentido da vida foi morto na cruz. Uma forma de execução corriqueira para aqueles dias.
Na maioria das vezes nós seguidores de Jesus nos sentimos assim hoje. Sabemos que ele está no céu, à destra de Deus Pai, mas isso é aterrorizantemente longe de nós. Como se o nosso Jesus não se importasse com as minúcias de nossa vida. Sentimos que dedicamos nossa vida a uma causa perdida. Uma causa esmagada pelo corriqueiro.
Trancafiados dentro de nós mesmos; dentro de nossos medos; dentro de nossas inseguranças; dentro das nossas limitações de criaturas pecadoras. Sentindo-se sem raízes em todo e qualquer lugar como aqueles seguidores que eram conhecidos de todos, mas ninguém queria tornar-se associado deles até aquele momento. Saudosos das antigas manifestações de Jesus; assim nós, na maioria das vezes, somos saudosos dos maravilhosos feitos de Deus em nós e por nós.
Essa experiência não é estranha a nenhum cristão. Recebeu o nome de “noite escura da alma” ao longo da história. Israel experimentou isso como nação na época do profeta Isaías. Está escrito: “Sião diz: O SENHOR me desamparou, o Senhor se esqueceu de mim”. (Is. 49:14) E Davi escreveu: “Até quando, SENHOR? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto?” (Sl. 13:1) Assim também aqueles galileus e nós.
Quando achamos que Deus não se importa mais ou não mais agirá, retomamos nossos afazeres ordinários. Assim aquelas mulheres que foram ao túmulo embalsamar o morto, representam-nos na ordinariedade da vida quando nos acostumados com a catástrofe, com o pessimismo. “Já que não tem mais jeito, adaptemo-nos”. “Vamos embalsar o corpo do Senhor”.
Mas o versículo de São Marcos nos mostra que “O Filho do Homem ressuscitará ao terceiro dia”. Quando chegaram ao túmulo, encontraram anjos, viram a pedra removida e aquele que foi crucificado vivia. Quando parece que tudo vai água abaixo, Deus ainda rege tudo do seu sublime trono. Ele devolveu sentido aqueles seus seguidores. O anjo disse: “Vão, digam aos seguidores dele e a Pedro que ele os encontrará na Galiléia”. O mesmo Jesus que padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, agora vai atrás do saudosista Pedro, do incrédulo Tomé, do medroso João. Ele janta com eles. Ele promete revestimento de poder. Ele promete presença constante de Deus com eles, o Espírito Santo, Deus adorado juntamente com o Pai e o Filho, Senhor, vivificador, que falou pelos profetas. Ele se promete a cada um dizendo: “Eu estarei com vocês até a consumação dos séculos”. Ele se promete dizendo: “Mesmo na sua velhice, quando tiverem cabelos brancos, sou eu aquele, aquele que os susterá. Eu os fiz e eu os levarei; eu os susterei e eu os salvarei.” (Is 46:4)
A sexta-feira da Paixão é um lembrete de que quando tudo indica que vai água abaixo, Deus ainda governa, Deus ainda é soberano; A cruz e o túmulo estão vazios, mas o Trono não. É um lembrete da presença de Jesus entre nós nos piores momentos. Quando parece que ele não trabalha é quando ele mais trabalha. Quando parece que ele nos esqueceu, é quando ele está efetuando a melhor e maior vitória. Foi naquela cruz, naquele fatídico dia que ele, na sua cruz, cancelou o escrito de dívida que constava contra nós; que, ao derramar seu sangue, efetuou reconciliação entre Deus e o seu povo, de toda tribo, língua e nação.
O mesmo João que se amedrontou naquele fatídico dia, testemunha no livro de Apocalipse que o Cordeiro está no meio do trono (Ap. 5:6), regendo todas as coisas para a expansão do seu Reino, para o bem da Sua igreja e para que todas as coisas trabalhem juntas para o bem daqueles que o amam e foram por ele chamados (Rm. 8:28).
Sexta-Feira da Paixão: Um lembrete de que: “Deus mesmo disse: "Nunca o deixarei, nunca o abandonarei”. (Hebreus 13:5).

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