O mito de Teseu e a fé cristã
O mito de Teseu é um mito sobre a importância da narrativa. Conta-nos o mito que Teseu venceu Minotauro e seu navio tornou-se o símbolo da sua vitória. Todos que contavam a narrativa apontavam para o navio como emblema do ocorrido. Um dia, porém, o navio acabou deteriorando e seus pedaços acabaram sendo substituídos por outros enquanto a narrativa continuava sendo contada. Passado um tempo nada havia do navio de Teseu, apenas a narrativa. Eis o importante da estória: O que importa e o que perdura é a narrativa.
A essa altura, é necessário perguntar: Qual narrativa? E sobre o quê ou quem? Para os cristãos, o que importa é a narrativa que Deus faz a nosso respeito. Valendo-se da linguagem jurídica, o que vale é a homologação divina a nosso respeito. De fato, o Novo Testamento apresenta o termo grego que deu origem à nossa palavra.
ομολογεω (homologeo) quer dizer "prometer, assegurar (Mt. 14:7; At. 7:17); concordar, admitir (Hb. 11:13); confessar (Jo. 1:20; At. 24:14; 1Jo. 1:9); declarar [publicamente], reconhecer, confessar (Lc. 12:8; Jo. 9:22; At. 23:8; Rm. 10:9; 1Tm. 6:12; 1Jo. 4:2,15; Ap. 3:5; dizer claramente (Mt. 7:23); louvar" (Hb. 13:15). Já ομολογια (homologia), quer dizer "confissão reconhecimento" (1Tm. 6:12; Hb 3:1; 4:14; 10:23).
Reconhecer, concordar, admitir e confessar o que Deus diz em sua narrativa a nossa respeito é o que mais importa. Não são nossas impressões, mas o que Deus fez registrar pelos seus profetas, apóstolos e evangelistas. Para que possamos reconhecer o que Deus diz e concordar com o que é dito da parte de Deus precisar conhecer o lugar da fala de Deus: A Escritura. Ela é, conforme atesta o Senhor Jesus, a testemunha de Deus. Isso até sana aquela antiga disputa sobre o cânon bíblico e a tradição. A Igreja simplesmente reconheceu os livros inspirados pelo seu uso corrente nas comunidades cristãs. Os concílios apenas reconheceram a autoridade extrínseca dos livros e seu uso corrente. Porque a Escritura testemunha de Jesus e era amplamente difundida nos primeiros círculos cristãos, a Igreja toda a recebeu como inspirada por Deus.
A narrativa que estamos construindo a nosso respeito ajusta-se a narrativa de Deus a nosso respeito? Estamos cada vez mais parecidos e similares a Cristo? A narrativa de Deus tem um personagem central e indispensável: Cristo; pois o propósito divino é de "fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra" (Ef. 1:10). A Bíblia diz que no início já fomos criados à semelhança de Deus (Tg. 3:9). Semelhante é ser parecido. O alvo desde o início é que com a nossa narrativa e a narrativa de Deus fôssemos semelhantes a Cristo, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm. 8:29).
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