Teólogos e os pecados cardinais ou cardeais
“É
vivendo, morrendo e sendo condenado que se faz um teólogo; não lendo, pensando
ou especulando”. –
Martinho Lutero
R. C. Sproul escreveu um
livro que aqui no Brasil é intitulado “Somos
todos teólogos”. Alguém já disse que a questão maior é se somos teólogos
bons ou ruins. Não quero adentrar no conceito próprio de Teologia. Não quero
dizer o que qualifica ou não um teólogo. Quero dizer, antes de tudo, que os
leigos são teólogos e fazem teologia. Com músicas, peças, piadas, todos estamos
fazendo teologia. Na época dos Pais da Igreja – entre 100 e 700 dC – os livros
de história do pensamento cristão contam que no meio de controvérsias
seríssimas, os leigos se envolviam.
Um exemplo chocante para
tanto é que em uma das muitas controvérsias sobre a Divindade do Filho, um
autor conta que, quando se ia comprar pão, o assunto no mercado era se o Filho
era ou não eternamente gerado pelo Pai. A premissa é que não importa quem ou
onde, todos estavam fazendo teologia. Assim como nós também.
Rodrigo Bibo de Aquino do
site e podcast Bibotalk tem uma
sacada genial a respeito. Ele diz:
Em Cristo, por meio do Espírito Santo,
temos uma vida cúltica. Em outras palavras, nunca saímos do culto, ele não
acaba com a bênção no fim da reunião no domingo à noite, mas se estende pela
nossa rotina. Somos sacerdotes de All
Star e chinelo de dedo, demonstramos a sacralidade de cada momento da vida no
ir comprar pão e no anúncio das boas-novas ao desconhecido na fila do mercado. [...]
Inclusive, a palavra da qual o termo sacerdote é derivado nunca é usada no NT
para descrever o ministério cristão oficial (como pastores), antes a tarefa de
todos os crentes.
Essa redescoberta – segundo
se diz – foi feita por Lutero, nos idos de 1500. Ela é chamada de o sacerdócio
de todos os cristãos. Uma redescoberta, pois antes era praticada
pela cristandade antiga. Lutero escreveu:
Todos somos, pois, igualmente
sacerdotes diante de Deus. [...] Por isso, todos os homens cristãos são sacerdotes
e todas as mulheres cristãs são sacerdotisas, sejam jovens ou velhos, senhor ou
servo, senhora ou serva, douto ou leigo. [...] Portanto, a consagração
realizada por um bispo não é nada além do que se ele, em lugar e em nome de
toda a congregação – todos com o mesmo poder – tomasse um dentre eles e o
encarregasse de utilizar seu poder em favor dos outros. Seria como se dez irmãos,
todos filhos do mesmo rei e com herança igual, escolhessem um deles para
administrar a herança de todos eles – eles seriam todos reis com poder
equivalente, embora um deles fosse encarregado com o dever de governar. Para
tornar isso ainda mais claro: Se um pequeno grupo de cristãos leigos e piedosos
fosse capturado e colocado em um deserto e não tivesse entre eles padre algum
consagrado por um bispo, e se ali no deserto eles concordassem em escolher um
deles, casado ou solteiro, e o encarregassem do ofício de batizar, celebrar a
missa, absolver e pregar, tal homem seria de fato padre como se todos os bispos
e padres o tivessem consagrado. Disso decorre que, em caso de necessidade,
qualquer um pode batizar e conceder absolvição, o que seria impossível se não
fôssemos todos padres.
Lutero chega a enumerar
alguns direitos que pertencem a todo cristão: pregar a Palavra de Deus,
batizar, celebrar a ceia do Senhor, orar pelos outros e julgar a doutrina. Isto
posto, sabemos que – como diz R. C. Sproul – somos todos teólogos. Mas o que
isso tem a ver com você, leitor (a)?
Fugindo dos ofícios sacerdotais
que cada um de nós tem, quero chamar a atenção para o fato de que então os
teólogos têm suas crises e seus pés de barro. Você e eu não os temos? Não somos
nós os teólogos? Por que razão essa classe de cristãos – que diferem apenas na
eleição para ofícios – não teria? Personagens bíblicos não tiveram? Sim, e aos
montes... Noé, bêbado na vinha e nu na tenda. Abrão mentiu sobre sua esposa,
Jacó comprou a primogenitura de seu irmão e enganou seu pai sob os auspícios de
sua mãe. Os irmãos de José, movidos por inveja, venderam o patriarca aos
ismaelitas e estes aos egípcios. Judá não teve relações sexuais com sua nora,
após negar-lhe o seu filho mais novo para contrair com ela matrimonio? E os
exemplos poderiam se multiplicar. Pedro, por exemplo, não se tornou dissimulado
quando cristãos judeus foram até Antioquia da Psidia, a ponto de ter sido
resistido face a face por Paulo?
Nós nos cansamos. Nós
sentimos inveja, rancor, ira, todos os pecados cardinais em alguma medida, pois somos cristãos, mas
não deixamos de estar rodeados pela presença do pecado. Escrevo este texto no “dia do teólogo”. Dia no qual me dei
conta que estou acossado por muitos desses pecados
cardeais. É uma justificativa santa para tê-los? De jeito nenhum! A ordem
bíblica é para crucifica-los. É viver, encarnar, a doutrina da Co-crucificação com Cristo Jesus. Mas não
quero beatificar os teólogos. Eu tenho muitos pecados. Muitos dos quais para
usar o linguajar bíblico, me assediam. Especialmente agora nesses dias me dei
conta que a inveja me assedia profundamente juntamente com a ira. Já escrevi
nesse blog antes, as confissões de um
teólogo cansado. Agora, escrevo na tentativa de organizar a turbulência da
mente. De, a semelhança de Davi, me reanimar
no SENHOR, meu Deus. Tenho, pela graça de Deus, me entregado mais à oração.
Tenho estado presente, na medida do possível, com a comunidade na qual congrego
e oficiado lá o ofício pelo qual fui chamado. Tenho assistindo alguns irmãos
pelo WhatsApp e aconselhado e instruído pela graça de Deus igualmente. Tenho
entendido estar na presença de Deus pela própria companhia de Deus como
expressou Clemente de Alexandria.
Escrevo estas coisas para
animar você, leitor (a). Não é um ideal espiritualizado que faz um teólogo. São
essas lutas diárias. Não nos disse Lutero no início? É vivendo essas tensões, é
morrendo nessas tensões. É sendo levado ao extremo da coisa. Talvez você não viva
nenhum dos meus dilemas e tá tudo certo e graças a Deus por isso. Mas tem os
seus, certamente. Este texto é para te encorajar e me encorajar a perseverarmos
fazendo teologia saudável e fiel. E teologia não pode ser dissociada de oração,
ensina Helmut Thielicke. Não se desespere, se você não é perfeito ainda;
reanime-se comigo, no Senhor, nosso Deus! Afinal, como rezam as palavras dos
profetas:
Ele fortalece o cansado e multiplica as
forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os
moços, de exaustos, caem, mas os que esperam no senhor
renovam as suas forças, sobem com asas como de águias, correm e não se
cansam, caminham e não se fatigam.
Comentários
Postar um comentário
Quando os comentários serão excluídos:
1. Quando ofender a qualquer pessoa envolvida.
2. Quando houver desrespeito com as convicções alheia
3. Quando houver uso de palavras chulas
4. Quando fugir do tópico supracitado
5. Reservamo-nos ainda ao direito de acrescentar ou retirar cláusulas quando julgar conveniente.
Os administradores.