Uma teologia robusta para tempos difíceis: A Teologia de Santo Agostinho
TEOLOGIA ROBUSTA PARA TEMPOS DIFÍCEIS: A
TEOLOGIA DE SANTO AGOSTINHO
Agostinho nasceu em treze de
novembro do ano de 354 d.C., em Tagaste, numa parte ao norte da África que hoje
é conhecida como Algéria. Seu pai, Patrício, era um descrente cujo interesse em
seu filho era limitado a preparar Agostinho para uma carreira que o levaria a
fama e a fortuna, e sua mãe, Mônica, era uma mulher de excepcional devoção e
piedade cuja grande tristeza na vida era seu filho rebelde. Ela chorou e orou
amargamente durante tanto tempo por seu filho que ele se tornou conhecido como
o "filho das lágrimas”. Vale ressaltar que, pouco antes de morrer,
Patrício abraça a fé cristã e é batizado.
Uma
mente sagaz em busca da verdade: Percorrendo as filosofias e religiões da época
Agostinho frequentou a escola de
catecumenato da igreja em Tagaste, mas aos 17 anos se amasia com uma mulher e,
aos 18 anos, tem um filho com ela chamado Adeodato. Agostinho era de uma
grandeza intelectual sem igual. Sua sagacidade o levava à percorrer as religiões
e filosofias da época.
a.
Maniqueísmo
O maniqueísmo é uma corrente
religiosa-filosófica que apregoa que há duas forças eternas e iguais em poder.
Uma delas é o deus bom e o outro o deus mau. Nessa linha de pensamento, Satanás
é tão todo-poderoso quanto Deus. O caminho para ser salvo, segundo essa
filosofia religiosa, é o ascetismo. Nas
suas Confissões Agostinho nos informa
que quando encontrou Fausto – o principal representante desse corrente na época
– ele reconheceu sua ignorância naquelas ciências
em que o julgava grande conhecedor, comecei a desesperar de que me pudesse
esclarecer e resolver as dificuldades que me preocupavam. Seus livros estão
cheios de fábulas intermináveis acerca do céu e dos astros, do sol e da lua,
que eu já não esperava, mas que pudesse explicar tão argutamente como eu o desejava.
Finalmente, ele arremata a questão dizendo: Quanto ao mais, todo o empenho que eu havia posto em progredir na
seita desapareceu por completo tão logo conheci este homem, mas não a ponto de
me separar definitivamente dela. É contra eles que ele escreve Da natureza do bem (c. 405 dC).
Nessa desilusão ele caminha então
em direção à segunda filosofia religiosa que abraçou antes do cristianismo:
b.
Astrologia
Astrologia é o estudo dos astros
e como eles influenciam no mundo e na vida dos seres humanos em especial. O
destino da humanidade e o temperamento do ser-humano é influenciado
determinantemente pelos astros. A astrologia, acreditava-se, poderia inclusive
predizer eventos futuros. Em suas Confissões,
Agostinho declara estar impressionado pela ciência dos astrólogos nessa
época. Quando escrevia a autobiografia, o bispo disse ainda que “os presságios acertados dos astrólogos são
obra da sorte ou causalidade e não da arte de observar os astros”. Na época
das Confissões, Agostinho escreve que
me “não importo mais em conhecer o curso
dos astros”.
Com a curiosidade em alta,
Agostinho avança mais um pouco e agora adentra o perigoso terreno do ceticismo:
c. Ceticismo
O termo tem uma raiz grega que
significa primeiramente aquele que
reflete, aquele que observa. O ceticismo, segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss é, uma doutrina segundo a qual o
espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade. O
progenitor do relativismo, portanto. Esse movimento pode ser resumido na frase Anatole France (1844-1924): “Duvidemos até mesmo da própria dúvida”.
Por fim, levado ao último
movimento sectário antes de sua conversão: O neoplatonismo.
d. Neo-Platonismo
Os ideais neoplatônicos falam de
uma realidade espiritual superior. O mundo das ideias. Este mundo é a cópia do
real mundo. O mundo Ideal. Agostinho fascinado com essa linha mestre de
pensamento abraça-a e a cristianiza quando converte. Essa linha-mestre abrirá
caminho para o entendimento de que Jesus é a imagem real das sombras da Lei.
Aqui, ele recebe o conceito de uma divindade transcendente. Aqui o problema do
mal adquire novas cores para o nosso Pai da Igreja.
O
professor de Retórica: A guinada na carreira acadêmica de Aurélio Agostinho
Desde 376, aos 22 anos, Agostinho
já lecionava. Em primeiro lugar em Tagaste onde ensinava gramática. Pouco tempo
depois vai à Cartago ensinar retórica. Nesse ínterim, ele leciona sobre Cícero, o famoso escritor. A principal
obra deste autor da qual Agostinho se debruçara é chamada de Hortênsio. Lá, conta-nos Agostinho, ia adiando a hora de abandonar a felicidade
meramente terrena. É nesse momento histórico que ele nos lega a famosíssima
frase: Dá-me castidade, mas ainda não.
Agora aos 28 anos, já em Roma,
Agostinho reúne alguns alunos em sua casa para fazer-se conhecido como
professor de retórica. Nessa época, Agostinho passa um ‘aperto financeiro’. Os estudantes romanos viviam mudando de
mestre para não pagar as aulas. Essa decepção é o que contribui para que ele vá
a Milão.
Os cidadãos de Milão solicitaram
ao prefeito de Roma um professor de retórica. A viagem seria custeada pelo
próprio Estado. Agostinho resolve oferecer-se para o cargo através dos
maniqueístas influentes com os quais ainda conservava algum tipo de amizade.
Após discursar diante do prefeito romano – Símaco – e sendo aprovado, Agostinho
vai então à Milão. Lá chegando, encontra Ambrósio, bispo na cidade. Nas Confissões, Agostinho relata que – em
virtude do comportamento hospitaleiro do bispo – passa a amá-lo. Ao ouvir suas
homilias, não estava atento para ser alimentado e nutrido pela verdade, mas
para estudar e analisar a sua arte e eloquência.
Tolle,
Lege! – Toma e leia: Romanos 13:13-14
Feriste-me
o coração com a tua Palavra e eu te amei! Tarde te amei, ó beleza tão antiga! Eis aí o grito de Agostinho. As palavras pregadas
pelo bispo de Milão atingem em cheio o coração do professor africano. Em suas Confissões Agostinho relata que nesse
intervalo, sua mãe orava insistentemente por ele. Numa dessas orações, ela viu
Agostinho aproximar-se dela. Então ela lhe disse: “Virás a mim, eu, porém, não
irei a ti”. Agostinho interpreta o fato acerca de sua conversão ao
cristianismo. Então dadas todas as desilusões precedentes, Agostinho resolve
retornar ao catecumenato da Igreja, mas agora em Milão e sob a supervisão de
Ambrósio.
Não pensemos, portanto, que a
conversão de Agostinho foi fácil e sem luta. Herman Hanko descreve a conversão
de Agostinho como segue:
Obstinado em buscar a verdade fora do seu único
santuário, agitado pelas ferroadas da sua consciência, vinculado pelo hábito,
atraído pelo medo, subjugado pela paixão, tocado com a beleza da virtude,
seduzido pelos encantos dos vícios, vítima de ambos, nunca satisfeito em seus falsos
deleites, lutando constantemente contra os erros da sua seita e os mistérios da
religião, um infeliz correndo de pedra em pedra para escapar do naufrágio, ele
fugiu da luz que o perseguia - Tal é a pintura pela qual ele mesmo descreve
seus conflitos nas suas 'Confissões’.
Nas Confissões, Agostinho narra-nos a sua conversão. Ele diz que
durante uma crise profunda ele ouviu uma voz – provavelmente de crianças que
brincavam ao redor do local onde Agostinho estava – dizendo: Tolle, lege, isto é, tome e leia.
Acossado como estava, Agostinho lança mão do texto que tinha em mãos: Romanos 13:13-14.
Parece que a Providência gosta de
salientar determinados versículos para ocasiões específicas. A conversão de
Agostinho é marcada por Romanos 13, a de Wesley por Romanos 1, a guinada
reformatória de Lutero por Romanos e Gálatas. Agostinho, a esta altura, estava
acossado por vários pecados sexuais e então lê na epístola de Paulo:
Uma
vez que pertencemos ao dia, vivamos com decência, à vista de todos. Não participem
de festanças desregradas, de bebedeiras, de promiscuidade sexual e de práticas
imorais, e não se envolvam em brigas nem em invejas. Em vez disso, revistam-se
do Senhor Jesus Cristo e não fiquem imaginando formas de satisfazer seus
desejos pecaminosos.
“Eu
não tinha mais vontade de ler e nenhuma necessidade de fazê-lo. Pois em um
instante, enquanto eu ia para o final da frase, era como se a luz da fé
inundasse meu coração e todas as trevas da dúvida fossem dissipadas".
De
catecúmeno a bispo: A mente teológica mais amada tanto por católicos romanos
quanto por protestantes
Ambrósio foi de catecúmeno a
bispo em uma única semana e sem o ser batizado. Só depois de empossado bispo,
convida Simpliciano para ser mentor em questões teológicas. Assim também
Agostinho. Jamais estudara teologia formalmente. Sendo posteriormente ordenado
presbítero e bispo. Apesar de não ser teólogo formalmente, Agostinho é tido
pelos estudiosos como o Orígenes do
Ocidente. Ele é um dos quatro doutores
da Igreja Romana juntamente com Ambrósio, Jerônimo e Gregório I. É sua a
contribuição do termo e do conceito de monergismo.
Agostinho fora batizado, aos 33
anos, juntamente com Adeodato e Alípio; seu filho e seu amigo,
respectivamente. Na noite do dia 24 para
o dia 25 de Abril de 387 dC. Após ser
batizado resolve retornar à África do Norte. A Igreja era ameaça por todos os
lados. Maniqueísmo, paganismo e donatismo
são alguns perigos que circundavam a Igreja. Servindo à Igreja em Hipona,
em 391, Agostinho fora praticamente forçado a aceitar o presbiterato. Certo
Domingo, quando estava no culto com os irmãos, o pegaram literalmente pela mão
e o arrastaram para frente para ser
ordenado presbítero pelo bispo da cidade. Quando o bispo da cidade quis um
bispo adjunto, Agostinho se viu forçado – mais uma vez – a aceitar o cargo
agora em 395 dC. Foi consagrado bispo
aos 42 anos de idade e permaneceu no ofício por mais de 30 anos.
Episcopado:
A sagacidade de Agostinho em defesa da fé cristã
Agostinho – em seu episcopado – enfrentou
vários desafios à fé cristã. São as famosas controvérsias
agostinianas.
a. O donatismo –
fundamentando a doutrina da Igreja e dos sacramentos
A primeira delas é a controvérsia donatista.
Essa controvérsia modelou o conceito de Igreja e sacramento em Agostinho.
Donato Magno era – assim como Agostinho – bispo na África, especificamente na
Cartago, onde Agostinho lecionou retórica. Donato Magno era assíduo leitor de
Tertuliano e Cipriano, bispos anteriores à ele em Cartago. Sua teologia era
altamente legalista. À medida que os anos passavam, os seguidores de Donato se
consideraram a única igreja verdadeira. O momento era de perseguição. Havia
bispos cristãos que diante da perseguição se retratavam da fé. Passado o momento
de perseguição, esses bispos – conhecidos como traditores (traidores) – queriam regressar à comunhão da Igreja. Os
traditores eram assim considerados
por entregarem aos oficiais romanos exemplares de textos do N.T. e denunciarem
onde os demais líderes se reuniam com suas respectivas comunidades. Donato
Magno se opunha ao regresso deles ao seio da Igreja. Donato era cátaro. Alguém que prezava por uma
igreja pura. Uma espécie de puritanismo antigo. Mas na igreja pura de Donato não havia espaço para
imperfeições. Os atos efetuados pelos bispos traditores – tais como Batismo, Eucaristia, Casamentos, Funerais –
eram todos inválidos. O sacramento, para Donato, tinha eficácia se o bispo que
o oficializou fosse legítimo. Eis aqui um extremismo da sucessão apostólica.
Agostinho rivaliza frontalmente
com esse ponto de vista. Em um ponto extremado do pensamento agostiniano surge
o conceito do sacramento automático.
O simples rito confere a benção. É o que é chamado em Teologia de ex opere operato. A tradução seria algo como em virtude do próprio ato. Porque eu realizo o rito, recebo o
sacramento. Numa visão mediata do agostinianismo, o sacramento confere o que o
sinal prediz num ato de fé representativo.
Aqui as igrejas pedobatistas – aquelas que batizam bebês, especialmente a
Luterana – tem o fundamento de sua teologia batismal. A fé do pai, do padrinho
e da Igreja é representativa para o
batismo do Infante. Quando crescer, o batizando deve fazer sua profissão de fé.
Numa visão empobrecida do sistema
agostiniano , o sacramento é apenas um memorial.
O batismo é um memorial da co-crucificação
do crente com Cristo. A ceia é um memorial do sacrifício vicário de Jesus para
o mundo. Perde-se com isso o próprio conceito de sacramento: A correspondência
entre o rito e a coisa significada pelo rito que é recebida por quem recebe o
sacramento. Não somos apenas lembrados de
que Cristo morreu. Fomos crucificados
juntamente com Cristo no gólgota. Agostinho – interpretando as parábolas do
Reino[1] –
diz que a Igreja comporta dentro dela o trigo e o joio até o dia de Cristo. Ao
contrário dos donatistas que defendiam uma igreja pura, Agostinho abre caminho
para estabelecer as marcas da verdadeira
igreja na tradição pós-reforma protestante. Marcas porque sempre haverá
pessoas não regeneradas dentro das alas do cristianismo.
Agostinho fundamenta toda a sua
teologia no fato de que os sacramentos independem do homem. Assim como a Graça,
os sacramentos são monergísticos.
Deus opera o batismo e a ceia mediante homens, mas Deus os opera. Quem batiza é Deus. Quem celebra a eucaristia é
Deus. O povo e o ministro recebem de Deus os sacramentos. Se os sacramentos
oficiados por bispos traditores é operado por Deus, ainda são válidos, segundo
Agostinho.
A base de todo o sacramento é a
Palavra. Agostinho pontua: Une-se a
Palavra ao elemento, e acontece o sacramento. A virtude não está no homem,
mas na Palavra. Ele fecha a questão ao dizer: Na verdade, a virtude espiritual do sacramento se assemelha à luz: os
que devem ser iluminados a recebem em sua pureza, pois, mesmo que tenha que
atravessar seres manchados, ela não se contamina.
Agostinho rejeita a visão de que o sacramento é apenas memorial. Ele
diz que se os sacramentos não tivessem
certa semelhança com as coisas das quais são sacramentos, eles não seriam sacramentos.
Vale esclarecer que sacramento é
um termo primeiramente militar e depois eclesiástico. No sentido militar,
sacramento aponta para um juramento, um penhor. No conceito eclesiástico,
sacramento designa um sinal correspondente ao ato efetuado. Um ato externo de
uma graça interna que já foi operada.
Graças ao confronto com o
donatismo temos a eclesiologia e a sacramentologia agostiniana. A visão
sacramental e eclesiológica de Agostinho fundamentará tanto o catolicismo
romano quanto o protestante de formas diferentes. A pompa da igreja romana está
presente na eclesiologia do bispo e a quantidade de sacramento protestante é
delimitado pelo uso estrito da Palavra. Sem Palavra não há sacramento. Aqui
nasce a obra Sobre o Batismo.
b.
Pelagianismo – fundamentando a doutrina da
salvação
Pelágio foi um presbítero
britânico no 4° século. Foi extremamente influente. Ele dizia que a liberdade
humana não foi afetada pela queda dos nossos primeiros pais Adão e Eva. Pelágio
foi um escritor prolífico. Ele escreveu dois livros sobre o livre-arbítrio e a
graça: Do livre-arbítrio e Graça. Foi
criticado tanto por Agostinho e Jeronimo. Inocentado pelo sínodo na Palestina
em 415 dC. Condenado como herege pelo bispo romano em 418 dC e pelo concílio de
Éfeso em 431 dC. Com o nosso arbítrio intacto, não havia necessidade da Graça
tanto para ser escolhido como para escolher a Deus. O pelagianismo nega com
isso tanto o arminianismo com sua graça
preveniente que é aquela graça
que capacita o homem a responder ao chamado de Deus, quanto ao calvinismo com a
graça eficaz que torna vivo o homem morto. Tanto arminianismo quanto calvinismo
e luteranismo concordam que o homem está espiritualmente morto e somente a
graça de Deus pode vivifica-lo. Para uns, ela é eficaz (calvinista), para
outros ela é preveniente (arminianismo) e para outros ela é universal
(luteranismo); mas para o pelagianismo ela é desnecessária. O homem consegue
salvação por sua própria vontade ao realizar boas obras. Pelágio negava o
pecado original. O homem peca por nascer no mundo pecador. Pelágio negava a
graça sobrenatural de Deus para a salvação. E por último, afirmava uma vida sem
pecado por uso correto do livre arbítrio.
A experiência de conversão de
Agostinho, por si só, desacredita a doutrina pelagiana. Agostinho relata em
suas Confissões que sua conversão foi
súbita. Foi ato da graça salvadora de Deus. Ele estava absorto em profunda
confusão quando então ouve o tolle, lege e
se depara com a carta do apóstolo Paulo. Entrementes as orações incessantes de
Mônica, Agostinho sempre se viu lutando contra aguilhões. Ele foi finalmente
vencido. Tarde te amei, ó beleza tão
antiga! Feriste-me o coração com a tua Palavra e eu te amei! Pelágio
parecia ignorar o testemunho bíblico da condição humana. É contra ele que
Agostinho defende o conceito de que exclusivamente Adão tinha a capacidade de
pecar (posse peccare) e a capacidade
de não pecar (posse non peccare). A
partir de Adão, sua descendência estava escravizada ao pecado (João 8:36).
Estava morta nos delitos e pecados (Efésios 2:1). Estava separada de Deus (Colossenses
1:21). Era inimiga de Deus (Romanos 5:10). Era filha da ira divina (Efésios
2:3). Filhos da desobediência (Colossenses 3:6). É a partir de Agostinho que a Teologia fala
de Adão como o Deputado da humanidade diante de Deus. O
representante de toda a raça. Os puritanos diziam: Quando Adão pecou, ninguém escapou. Todos foram destituídos da Glória de Deus (Romanos
3:23). Todos receberam o salário do pecado: A morte espiritual e
consequentemente a física (Gn. 2:17).
Só a graça pode redimir a
criatura humana em condições assim. E a Graça o fez. A Graça veio por
intermédio de Jesus Cristo. Seja no anúncio profético no Antigo Testamento,
seja na carne nos evangelhos, seja na pregação apostólica das epístolas a graça de Deus se manifestou salvadora a
todos os homens (Tito 2:11). A luz da graça veio ao mundo e vindo ao mundo
iluminou todos os homens (João 1:9). Fazendo coro uníssono com Paulo, Agostinho
bradou: Vocês são salvos pela Graça,
mediante a fé, isso não vem de vocês; é dom de Deus. Isso não depende de quem quer ou quem corre, mas de Deus usar sua
misericórdia (Cf. Ef. 2:8 e Rm. 9:16).
As principais obras de Agostinho anti-pelagianas
são: Do Espírito e da letra (412 AD), Da
natureza e da Graça (415 AD), Da graça de Cristo e do pecado original (418 AD),
da Graça e do livre-arbítiro (427 AD), Da predestinação dos santos (429 AD). Não
é sem razão que Agostinho é conhecido na Teologia como o Teólogo da Graça.
c. Maniqueísmo –
o mundo é o teatro da glória de Deus! Uma
teologia da criação!
Mani era um gnóstico persa que
acreditava que o mundo físico era fruto de um deus maligno todo poderoso. O
corpo – por ser material – era a prisão da centelha divina boa. O órgão sexual
masculino era especialmente repudiado pelos maniqueus assim como todo o
restante do corpo. Para eles, a encarnação do Verbo foi desnecessária ou
ilusória. Nas palavras do apóstolo João, o espirito
do anticristo já estava operando no mundo. A ênfase do movimento era o
celibato. Quem quer que fosse iniciado no maniqueísmo tinha que ser
celibatário. Contrariando assim a ordem de Deus[2] da
qual o apóstolo Paulo escreveu: Ora, o Espírito afirma expressamente que,
nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam
mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que
Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos
conhecem plenamente a verdade; pois tudo
que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é
recusável, porque, pela palavra de Deus
e pela oração, é santificado.
Ironicamente, Paulo é o escritor
que Mani tinha mais apreço. Negava totalmente o Antigo Testamento e recusava
grande parte do Novo. Mantendo do último apenas o Evangelho de Lucas e as
cartas de Paulo.
Contra o maniqueísmo, Agostinho
defende a Teologia da Criação. Tudo o que Deus criou é bom. Para usar a máxima
de Calvino, o mundo é o teatro da glória de Deus. A glória de Deus se revela no
céu (Salmo 19:1). Os atributos invisíveis de Deus e sua divindade se reconhecem
pelas coisas criadas (Romanos 1:20). O
mundo – em toda a sua plenitude – é do Senhor Deus (Salmo 24:1).
Aqui entra a antropologia
agostiniana. O mundo é bom, mas está corrompido pelo pecado, incluindo a
natureza humana. A necessidade nossa, portanto, é renascer em Deus mediante
Jesus Cristo e tudo isso mediante unicamente a graça e a fé. O pecado original
está na humanidade. É dele o termo pecado
original.
d. Ateísmo
Cristão: A Cidade de Deus que desce do céu permanece para Sempre!
Nos primórdios, ser cristão
equivalia ser ateu. O cristão era aquele
que não tinha imagens de seu Deus. Os romanos, gregos, persas, todos tinha
imagens. Os cristãos até então não as tinha.
Eles eram acusados de serem ateus por isso. Acusados de serem canibais
pela celebração da Ceia onde – segundo seus oponentes – comiam carne e bebiam
sangue a cada reunião. Era acusados de serem incestuosos por se
cumprimentarem com beijo santo aos irmãos
e irmãs.
O Império Romano Ocidental caiu
em 476 dC. Isso significa que já na época do grande bispo estavam ocorrendo invasões
bárbaras. Os romanos – assim como Nero antes – culpavam os cristãos pela falta
de proteção de Roma “cidade eterna”. Agostinho então trava uma defesa ardente
do cristianismo na sua obra Cidade de
Deus. Obra fruto de 13 anos de labor teológico. Nele, Agostinho seculariza a história. Agostinho
demonstra que desde o início, existem duas cidades: A Cidade de Deus e a Cidade
dos Homens. Os protótipos bíblicos são numerosos: Abel e Caim, Isaque e Ismael,
Jacó e Esaú, etc. Rookmaaker foi influenciado pelo Agostinho e também o PalavrAntiga com sua música Rookmaaker. Aqui, o PalavrAntiga faz menção à cidade dos homens... fruto deste livro de
Agostinho.
Agostinho faz uma defesa
mostrando que apesar dos pesares o cristianismo se manterá firme, pois seu
fundamento não é outro senão Jesus Cristo (1Coríntios 3:11) e Jesus é aquele
Leão-Cordeiro que está no Trono (Apocalipse 5:1). Ele vence e com ele vencem seus seguidores (Apocalipse 17:14). Após fomentar a ardorosa defesa, Agostinho
tomba alguns dias antes dos bárbaros tomarem Hipona.
APRENDENDO
COM AURÉLIO AGOSTINHO
1.
A fé cristã busca compreensão. Não compreendo
para crer, mas creio para compreender. Eis
a máxima de Agostinho. Anselmo da Cantuária a levará para a Idade Média. Os
debates teológicos de Agostinho ensinam que a nossa fé deve ser racional. Nas
palavras de John Stott crer é também
pensar.
2. O Reino de
Deus é para doentes. A Igreja Pura
só será pura no Retorno de Jesus Cristo. Até lá, haverá justos e ímpios
congregando juntos. Jesus disse: “Eu não
vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento”. O Reino de Deus são para
pecadores arrependidos. Jesus disse: “Os sãos não precisam de médico e sim os
doentes”. O Reino de Deus são para os doentes de coração. Desejosos de um
Salvador.
3. Graça do
começo ao Fim. Valendo da máxima de
David Martin Lloyd Jones, Agostinho defende que, é graça do começo ao fim. Agostinho defende que não depende de quem
quer, mas de Deus usar sua misericórdia. Agostinho é aquele que pôde falar de
Deus salvar alguns da ‘massa de perdição’
que nossos pais precipitaram. É obra monergística
do começo ao fim. Sola Gratia é um resgate absoluto da teologia
agostiniana.
Em verdade, Agostinho foi aquele
que pôde falar: Fizeste-nos para Ti, e
inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti. E ainda: Não pode saciar a fome quem lambe pão
pintado. O pão que satisfaz é Cristo. Nenhum outro subterfúgio além dele
será suficiente para nós. Só Cristo e nada mais. Só Cristo fornece e fundamenta
uma teologia robusta para tempos difíceis.
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