Vai bater ou correr, camarada?!
Em 2018 foi feito um estudo
chamado mudança de conceito induzida por prevalência. O experimento consistia
em conduzir voluntários a uma sala onde estava apenas um computador com duas
teclas: Azul e não azul. As cobaias tinham que ver mil pontos na tela e indicar
quais eram azuis e quais não. O experimento começou com um número grande de
pontos azuis e foi diminuindo gradativamente. Os cobaias começaram a imaginar
pontos azuis onde não existia. O mesmo experimento agora passa a mostrar rostos
amedrontadores e amigáveis. De forma semelhante, foi diminuindo gradativamente
os rostos amedrontadores e as cobaias começaram a enxergar rostos
amedrontadores onde eram apenas rostos amigáveis. Os pesquisadores, por fim,
começaram a testar as cobaias com dois tipos de entrevista de emprego: Éticas e
antiéticas. Gradativamente começaram a reduzir as antiéticas e as cobaias
começaram a enxergar propostas indecentes onde não havia. O experimento era só
uma forma de mensurar como os seres humanos modificam a percepção para que ela
se encaixe nas expectativas.
Émile Durkheim sugeriu um teste
imaginário onde exista uma sociedade idealmente perfeita, sem crime, sem
violência e sem desrespeito. Durkheim indica que essa sociedade ainda teria
seus problemas. Ela apenas transferiria os atos infracionais mais graves – como
matar, por exemplo – para menores. Mark Manson diz, com muita propriedade, que
o que descobrimos, então, é que nossa resposta emocional aos problemas não é
definida pelo tamanho do problema. Na verdade, nossa mente só amplifica (ou
minimiza) nossos problemas para que se encaixem no grau de estresse que
esperamos enfrentar. Einstein parece
reforçar o argumento quando demonstra que nossas percepções de tempo e espaço
mudam de acordo com o contexto das nossas observações: dez segundos para mim
podem ser cinco para você; o que compreendo como um quilômetro você
teoricamente pode perceber como alguns metros. Uma pesquisa conduzida em meados
de 1980-1990 mostrou que a humanidade tem um ‘sistema imunológico psicológico’
que não importa o que aconteça conosco nossas emoções, memórias e crenças se
alteram e editam para nos manter no nível de felicidade “média, porém não
totalmente satisfatória”. Isso indica que nossa mente amplifica ou minimiza não
só nossos problemas, mas também o nosso conceito de felicidade.
Todos implicitamente presumimos
que nós somos a constante universal da nossa própria vivência, que nós
somos imutáveis e que nossas experiências vêm e vão como o clima. Alguns
dias são bons e ensolarados; outros são nublados e péssimos. Os céus mudam, mas
nós permanecemos os mesmos. Mas isso não é verdade — muito pelo
contrário, aliás. A dor é a constante universal da vida. A percepção e as
expectativas humanas se desdobram para se encaixar em uma quantidade
predeterminada de dor. Em outras palavras, não importa se nossos dias forem
ensolarados, nossa mente sempre vai imaginar o tanto exato de nuvens para nos
deixar meio decepcionados.
Schopenhauer, importante filósofo
alemão do século XVIII, vai resumir a existência humana servindo-se da alegoria
de um pêndulo que oscilaria da esquerda para a direita – como muitos dos
partidos políticos – entre o enfado e a frustração ou entre desejo e tédio.
Essa adaptabilidade reconhecida nos
testes e no pendulo de Schopenhauer é vista no que Taleb chamou de
antifragibilidade. Enquanto um sistema frágil se quebra e um sistema robusto resiste
à mudança, o sistema antifrágil ganha com pressões e forças externas. Mark
Manson em f*deu geral tem uma sacada
genial. Ele disse: “A dor é uma constante universal. Não importa se é ‘boa’ ou ‘ruim’,
sua vida fique, a dor continuará ali. Em algum momento a dor se tornará
administrável. A única questão, então, é: você vai aceitar sua dor ou fugir
dela? Vai escolher a fragilidade ou antifragilidade? Tudo que você faz, tudo
que você é, tudo com que se importa, é um reflexo dessa escolha: seus relacionamentos,
sua saúde, seus resultados no trabalho, sua estabilidade emocional, sua integridade,
sua relação com a sua comunidade, o alcance das suas experiências de vida, a
profundidade da sua autoconfiança e da sua coragem, sua habilidade de
respeitar, confiar, perdoar, apreciar, ouvir, aprender, de ter compaixão. Se
qualquer uma dessas coisas é frágil, é porque você escolheu evitar a dor”.
Bukowski disse corretamente que a
raça humana exagera em tudo: seus heróis, seus inimigos, sua importância. Nós
queremos tanto ser o centro das atenções que procuramos padrões constantes
naquilo que é passageiro. Nos ajustamos à circunstancia que se impõe a nós. Em
virtude disso, o nosso desafio é: “Vai bater ou correr, camarada?”
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