Meditação no Salmo 8:3-8

 • O homem na sua fragilidade — enosh.

A derivação etimológica é incerta. Enosh  poderia derivar de uma raiz semítica que significa "fraco e doente" e literalmente falando traduz-se como "mortal". Aparece nas poesias e orações da Bíblia como em 2Crônicas 14:11. Frequentemente enfatiza sua fragilidade como em Jó 7:17; Salmo 8:4 e 90:3, bem como do ugarítico para "companheiro" ou do arábe "amigo"; se tomarmos sua raiz na conotação árabe ou ugarítica o que se enfatiza é o sociablidade do homem. À luz do Salmo 8:4, entendemos que é preferível pensar na mortalidade do homem.

A maior concepção teológica do termo é a distinção entre Deus e o homem. Nas palavras de Eliú: "Deus é maior que o homem" (Jó 33:12). O homem ao qual os pensamentos de Deus se ocupam é aquele que é mortal, efêmero, passageiro, transitório, pequeno, fraco. Isso é reforçado pelo uso do termo "filho do homem" denota sua origem terrena. Enosh aqui fala de toda a humanidade no seu estado caído. 

• Deus se dá atenção, i. é, importa com a humanidade no seu estado mais frágil - tizkerennu

A palavra "penses" é uma palavra com vários significados, um dos quais é: "Dar atenção à" ou "lembrar-se". Quando Deus é conclamado a lembrar-se de algo, o melhor significado a ser tomado disto é que Deus dê uma atenção singular, uma vez que nada escapa da onisciência divina. Quando Deus se lembra de algo ou alguém acontece uma ação apropriada em resposta. Quando Deus se lembrou de sua aliança, seu povo foi liberto (Êxodo 2:24-25; 6:2-5; Números 10:9), preservado (Levítico 26:44-45). Quando a fidelidade de Ezequias foi lembrado ele foi curado (2Reis 20:3,5-6); Quando Deus se lembrou de Noé, as águas minguaram (Gênesis 8:1). O termo quer nos lembrar que Deus é um Deus ativo na nossa história.

Salmo 8:3-6 na Nova Versão Transformadora (NVT)

A palavra ocorre 165 vezes na Bíblia, das quais, 43 estão presentes nos Salmos. Nós podemos pedir que Deus se lembre de nós como Jeremias fez (Jeremias 14:21).   

Há outro termo correlato no Salmo, ainda no v. 4, (heb. tifkedennu) que se refere a alguém (geralmente Deus) prestando atenção às pessoas, seja para lhes fazer bem (Gênesis 50:24-25; Êxodo 3:16) 

• A ênfase cristológica

O salmo é bastante cristólogico, i. é, aponta para a pessoa e obra de Jesus Cristo, Filho de Deus. Veja o v. 2: "Tu ensinaste crianças e bebês a anunciarem a tua força; assim calaste teus inimigos e todos que a ti se opõem". É citado pelo Senhor Jesus em Mateus 21:15-16. O v. 4, por exemplo, é amplamente citado no Novo Testamento:

→ 1Coríntios 15:27, onde lemos: "Porque ele "tudo sujeitou debaixo de seus pés". Ora, quando se diz que "tudo" lhe foi sujeito, fica claro que isso não inclui o próprio Deus, que tudo submeteu a Cristo".

→ Efésios 1:22-23, onde lemos: "Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou como cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância".

→ Hebreus 2:6-8, onde lemos: "Porque em certo lugar alguém disse: “Quem é o simples mortal, para que penses nele? Quem é o filho do homem, para que com ele te importes? E, no entanto, por pouco tempo o fizeste um pouco menor que os anjos e o coroaste de glória e honra. Tu lhe deste autoridade sobre todas as coisas”. Quando se diz “todas as coisas”, significa que nada foi deixado de fora. É verdade que ainda não vimos tudo ser submetido à sua autoridade".

Tradicionalmente, algumas igrejas têm o costume de recitar esse salmo no dia da Ascensão do Senhor no calendário litúrgico.

APLICAÇÕES:

1. Somos fracos, mortais, dependentes de Deus; Precisamos e devemos reconhecer isso todo o momento.

2. Deus, em toda a sua grandeza volta a sua atenção para seres humanos caídos para ajudá-los misericordiosa e graciosamente; Precisamos abrir o nosso coração para esse agir gracioso e onibenevolente de Deus.

3. Cristo é o vencedor por excelência; o Rei exaltado, invencível, inigualável. Vamos nos render ao senhorio do nosso Senhor Jesus Cristo já.


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