Reflexões sobre o Brasil: A raiz do problema é antigo.

 "Millôr Fernandes tem uma frase que resume bem o quadro do Brasil atual; ele diz: 'O Brasil tem um grande passado pela frente'. (...) O Brasil, portanto, antes de ser uma nação, foi um conglomerado de feitorias, de empresas, muitas delas ligadas à poderosas joint ventures europeias. O parco governo que se teve por aqui tomava decisões inteiramente ao sabor das vontades e necessidades desses arrendatários. Durante 400 anos permanecemos assim, e esse início justifica o nosso fim: elites econômicas determinando nosso projeto de nação.


Desse modo, segundo Raymundo Faoro, pode-se dizer que, da chegada de Cabral até Dilma Roussef, uma estrutura político-social resistiu a todas as transformações fundamentais: 'A comunidade política conduz, comanda, supervisiona negócios, como negócios privados seus, na origem, como negócios públicos, depois [...] Dessa realidade se projeta a forma de poder, institucionalizada num tipo de domínio: o patrimonialismo'.

Esse imperativo categórico da sociedade brasileira, ou seja, a inviolabilidade daquilo que foi assim desde sempre, cria um elo profundo entre os que aqui chegaram em 1500 e os que aqui hoje estão. Os mesmos objetivos os animam: a espoliação, a expropriação, o lucro, a exploração. Esses fins justificam os meios utilizados, que passam sempre ao largo de um projeto de país, sempre ao largo dos interesses do povo".

— Marcos Costa

[A História do Brasil para quem tem pressa: Dos bastidores do descobrimento à crise de 2015 em 200 páginas, pp. 09-10]

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