Domingo, 9 de abril de 2023

Texto:  2Cr 30:1-20

INTRODUÇÃO: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Páscoa: Uma das três principais festas do povo de Israel no A.T.  (Dt 16:16). Marca a lembrança da intervenção de Deus em favor do seu povo na saída do Egito após o 10° sinal (Ex 12). A páscoa marca o início do ano para os israelitas. Os momentos significativos de Israel estão sempre relacionados à pascoa:

·         Saída da escravidão – Ex 12

·         Entrada na Terra Prometida – Js 5:10,11

·         Reconstrução da Nação – Ed 6:19-22

·         Restauração e avivamento – 2Cr 30

·         Pedro foi milagrosamente liberto da prisão numa pascoa – At 12

Páscoa era inicialmente uma festa familiar onde a casa se torna um santuário e a mesa um altar de sacrifício. Para nós, lembra-nos nossa unidade enquanto família de Deus e santuário dedicado ao Senhor (Ef 2:19-22; 1Pe 2:5-10). Celebrar a páscoa é um ato de fé (Hb 11:28). Ao lermos o relato da Ceia, percebemos que não havia cordeiro, pois o Cordeiro haveria de morrer na cruz. 

πάσχα (páscoa) e πάσχω (sofrer) estão intimamente relacionados. Cristo, nossa páscoa (πάσχα) sofreu (πάσχω) no madeiro (Lc 22:15). Isso nos lembra que as intervenções de Deus na saída do Egito se deu em resposta à oração do seu povo diante do sofrimento (Ex 3:7,8).

Nesse contexto de momento significativo e restaurador, entra Ezequias, rei de Judá…

Ezequias: Após o reinado de Salomão, a nação se dividiu em dois reinos. O reino do Norte composto por dez tribos rompeu com a dinastia de Davi tendo Samaria como sua capital; enquanto que o reino do Sul se manteve fiel à família de Davi tendo Jerusalém como sua capital.

Ezequias significa "Deus é minha força" e é o nome de três pessoas no AT. O principal e mais proeminente deles é este personagem. Rei da linhagem de Davi.

De acordo com o autor dos livros dos Reis, não houve outro rei de Judá como ele, nem antes, nem depois, porque Ezequias confiava no Senhor (2Rs 18:5).

Este monarca começou suas reformas imediatamente após ser coroado rei (2Cr 29:4). Ezequias até mesmo incentivou os habitantes do reino do Norte a participar da adoração em Jerusalém. Nessa época, eles não mais possuíam seu centro político. Samaria fora destruída pelos assírios (722 a.C.) e os israelitas que sobreviveram coexistiam com outros povos, os quais Salmaneser mandou instalar na região. Essa coexistência é que dá origem aos samaritanos.

Uma de suas primeiras ações no começo do seu reinado foi restabelecer a celebração da páscoa do Senhor. Como seu nome sugere, tudo o que fez foi segundo a força que Deus dá (1Pe 4:10). O Reino Sul já havia sido levado cativo (v. 6,9), o reino Sul estava em idolatria (2Rs 18:4).

I.                    O QUE DEUS FEZ E ESTÁ FAZENDO POR NÓS NA PÁSCOA? CONVIDANDO=NOS

 

 

1.       Um convite ilimitado (v. 1-5)

Efraim, Manassés (v. 1), Zebulom (v. 10), Aser (v. 11) são sinônimos do reino Norte; Judá (v. 12), é sinônimo do Reino Sul. Abrange, portanto, toda a nação (v. 1). “Dã e Berseba” (v. 4), equivale de “Norte ao Sul”; abrange, portanto, todo o território.

A universalidade do convite de Deus:

·         Todos vocês, confins da Terra” (Is. 45:22);

·         “Todos vocês, que tem sede” (Is 55:1);

·         Toda carne verá a salvação de Deus (Lc 3:6);

·         “Todo aquele que invocar o nome do Senhor” (At 2:21);

·         “Justificação que a todos dá vida” (Rm 5:18);

·         “Deus deseja que todos sejam salvos” (1Tm 2:4);

·         “A graça se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2:11)

·         “Todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3:9);

·         “ (...). Todo (...) Quem quiser, beba, de graça, da água da vida” (Ap 22:17);

No texto, a pascoa supera as diferenças entre o reino Norte e Sul. Similarmente, a mesa do Senhor é um convite e um lembrete para superarmos nossas diferenças. Paulo escreveu extensivamente sobre isso dizendo que em Cristo não há mais gentio ou judeu, uma vez que o Senhor Jesus derrubou a parede de inimizade que estava impedindo o desfrute de ambos.   

1.1 Um convite para retorno a Deus

Aqui entre os vv. 1-5, Ezequias envia cartas de convite. Da mesma maneira, o nosso Rei enviou-nos a sua carta de convite (A Bíblia). O convite de Ezequias é para que os israelitas fossem à casa de Deus. O termo vir tem a ideia de movimento tal como o descrito no Sl 100:2,4(GKH995). Essa ideia será desenvolvida nos vv 6-9 com a ideia de volta a Deus, isto é, arrependimento. Um movimento de retorno consciente a Deus como descrito em 2Rs 17:13; Is 44:22; Os 14:1.

1.2 Um convite para restauração através da Palavra

No v. 5, a Bíblia diz que o Rei e a nação “decidiram” celebrar a Páscoa do SENHOR. O termo decidir (‘amad) significa dentre tantas coisas: Restaurar; pronto para servir” (GKH6641). Daí, a restauração da páscoa (v. 2). Essa restauração e a servitude nos vêm através da “proclamação” (v.4). Proclamação é davar, isto é, “Palavra”. A restauração vem, acima de tudo, pela Palavra do Senhor (cf. v. 12).

II.                   COMO DEVEMOS REAGIR À PASCOA: RESPONDENDO AO CONVITE DE DEUS.

 

2.       A resposta humana ao convite (vv 6-17)

De acordo com a Bíblia, arrependimento é retorno a Deus (heb. Shuv). É uma resposta à iniciativa de Deus. Jesus nos escolhe e nos capacita a respondemos positivamente a sua escolha.  O texto nos diz que alguns zombaram, fizeram chacota e riram com desdém (v. 10) dos emissários. Nós, entretanto, somos chamados a responder ao convite do Rei:

2.1   Saindo da desconfiança (v. 7).

Infidelidade aqui significa desconfiança ao que Deus tem dito. Somos instados pela Bíblia a não chamarmos o Deus verdadeiro de mentiroso em suas promessas e ações para conosco;

2.2   Deixando a dureza de coração (v. 8).

Obstinação significa “coração duro e rebelde”. Ao longo da Bíblia, o povo de Deus repetidamente manifestou essa dureza (Ex. 32:9; 33:4; Dt 10:16; 2Cr 36:17; Ne 9:16,17,29; Jr 7:26; 17:23; 19:15). Segundo a Bíblia, quem endurece seu coração, cai na desgraça” (Pv. 28:14).

Hoje (Sl 95:8-10) se ouvirmos a Sua voz, não endureçamos o coração. Se Deus estiver falando conosco e está, devemos estar prontos para ouvi-lo e obedece-lo de com todo o nosso Ser.

2.3 Submetendo-nos ao Senhor (v. 8).

Submeter é “dar-se inteiramente ao Senhor” (CWS H5414). Literalmente o texto nos chama a “dar a mão ao Senhor”. Esse dar é expresso no vir ao Templo do Senhor para celebrar a Pascoa. O mesmo termo que expressa o movimento do arrependimento. Me entrego ao Senhor na medida em que me arrependo constantemente. Por isso, veremos adiante que a cura que Deus dá (v. 20) atinge o todo do homem.

2.4 Servindo e adorando (v. 8b)

Servir na Bíblia significa na maioria dos casos quando dito a respeito de Deus adorar. Exemplos são: Ex 3:12; 4:23; 7:16; Js 24:15,18. Jesus, no deserto, disse: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás”. São duas moedas da mesma realidade. Sirvo adorando e adoro servindo.

 2.5 Humilhando o coração (v. 11)

Alguns zombaram (v.10), outros humilharam-se (v.11). Zombar significa imitar fazendo chacota. Foi o que Sansão fez diante dos filisteus (Jz 16:25,27). Pode ser um riso de descrença como Abraão e Sara (Gn 17:17; 18:12-13).

Jeremias (20:7) e Neemias (2:19) sofreram tal zombaria em suas vidas; bem como o salmista (22:7). Ao contrário da zombaria, somos chamados a humilhar. A acolher o que Deus diz como sendo a mais absoluta verdade (1Ts 2:13).

Através da humilhação, Deus nos chama a um estado de ter sido conquistado seja emocionalmente ou fisicamente (Louw-Nida 39.52-39.61).

2Cr. 7:14: "Se o meu povo que se chama pelo meu nome se humilhar e orar (...) Eu ouvirei dos céus e perdoarei os seus pecados e sararei a sua Terra".

A ideia básica de humilhar-se diante do Senhor é dobrar-se diante dele como a asa de um pássaro pode ser dobrada. É abandonar a independência de Deus. Humilhar-se é reconhecer quão dependentes somos de Deus.

III. NOSSO PAPEL NA PÁSCOA: APROPRIAÇAO DA CURA DE DEUS EM CRISTO JESUS

3. A cura de Deus (vv. 18-20)

3.1 Cura e perdão: Através de Cristo e para o homem todo

O termo aqui é o mesmo usado quando Isaías descreve a cura vinda através do Cristo (53:4,5). Descreve o nome do SENHOR (Ex 15:26). Na passagem de Is. 53, os temas de restauração e cura se misturam (TWOT, 2196).

O Sl 147:3 ensina que “Deus cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas”. O uso de raphah no AT é decididamente holístico, isto é, atinge todo o homem (GKH8324).  Rapha diz respeito a cura da apostasia e da rebeldia nos escritos proféticos (Jr 3:22; Os 14:1-4). Devemos nos dar inteiramente ao Senhor, da mesma forma, a cura atinge todo nosso ser.

·         Precisamos ouvir de todo o nosso coração para que haja cura de Deus em nós (Is 6:10)

·         Quando humilhamos nosso coração, Deus nos cura (Is 57:18).

·         Precisamos clamar para que haja cura de Deus (Jr 17:14);

3.2 A cura em resposta a oração

·         Deus ouviu o choro de Ismael (Gn 21:17);

·         O Êxodo acontece em resposta à oração (Nm 20:16);

CONCLUSÃO

Numa páscoa, Deus mata o primogênito de Faraó; em outra, Deus mata o Seu. Cristo se torna nossa páscoa (1Co 5:7, ARC).

·         Para Israel, a páscoa era celebração da escravidão e também o é para nós: Fomos retirados do império das trevas e transportados para o Reino do Filho (Cl 1:13,14).

 

·         Páscoa é motivo de alegria (vv. 21-22) porque Cristo Jesus é a nossa alegria (Ne 8:10).

 

·         Páscoa nos chama a uma vida santa (vv. 13-14), porque o Senhor é santo devemos também ser santos (Lv 19:2; 1Pe 1:15-20) e sem santidade ninguém verá o Senhor (Hb 12). Essa é a razão pela qual não havia fermento na vida de Israel na celebração da páscoa/pães sem fermento.


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• Sermão pregada na Igreja Cristã Sal da Terra — Repartir em Uberlândia no Domingo de Páscoa de 2023.

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